O SR. FLORIANO PESARO (PSDB) –Sr. Presidente e Srs. Vereadores, hoje, terça-feira, 6 de março, às 19 horas, será realizada, em todo o País, a manifestação Bicicletada Nacional. A ação faz parte do movimento de solidariedade às vítimas do trânsito, e pede mais respeito e prioridade nas políticas públicas de mobilidade urbana. Em São Paulo, o evento ocorrerá logo mais, na Praça do Ciclista, na Avenida Paulista com a Rua da Consolação.
A nossa Cidade, de dimensão estadual tanto em área quanto em população, tem apenas 35 quilômetros de ciclovias e 30 quilômetros de ciclofaixas, ainda muito pouco. Deveria ter, no mínimo, 400 quilômetros. Em Nova York, há 400 quilômetros de ciclovias para seus 8 milhões de habitantes. Em Paris, 440 quilômetros. Não precisamos ir longe. Na vizinha Bogotá, capital da Colômbia, há 180 quilômetros. Em São Paulo, estima-se que mais de 300 mil ciclistas utilizem ciclovias e demais meios compartilhados com o pedal. Aos domingos, 40 mil ciclistas usam ciclofaixas.
A bicicleta tornou-se um importante meio de substituição de veículos automotores. Não polui o meio ambiente, é saudável, não gera congestionamentos, tem preço acessível e baixo custo de manutenção, sem exigir combustível. Trata-se de um símbolo do conceito de sustentabilidade. Para incentivarmos mais pessoas a usar bicicletas, precisamos ampliar ciclofaixas e, principalmente, mudar a cultura no trânsito.
Há uma crença dominante entre motoristas e motociclistas de que a bicicleta é um veículo menos importante, um intruso no espaço urbano. Há o entendimento equivocado de que é o ciclista que deve se proteger, desviar de carros e, se possível, nem sequer existir. Esquecem que, se houvesse hierarquia no trânsito, o mais vulnerável, o mais exposto é o que deveria ser priorizado. Estou falando do que houve no passado e há no presente, porque o Código de Trânsito Brasileiro já dá prioridade ao pedestre, ao ciclista, ao motociclista, ao automóvel e ao ônibus, priorizando o mais fraco.
Não há dúvidas de que, por essa matemática, o ciclista, depois do pedestre, é o primeiro plano. Mas, infelizmente, não é essa a percepção que vemos nas ruas. No dia 2 de março de 2012, um motorista atropelou a ciclista Juliana Dias, de 33 anos, na Avenida Paulista, perto da Rua Pamplona. A mais paulista das avenidas virou um cenário cruel, com sangue e desrespeito. Imaginem a cruel proporção entre um ônibus de grandes dimensões ao ceifar uma pequena bicicleta, guiada por uma mulher. Houve outros envolvidos no episódio. A ciclista teria discutido com o motorista de outro ônibus e sido atropelada pelo segundo ônibus, depois que o motorista de um veículo efetuou uma ultrapassagem incorreta.
O fato ilustra muito bem o que ocorre na nossa cidade. A confusão nas vias dilui as responsabilidades e favorece uma espécie de barbárie anônima. Na feroz disputa por espaço, esquecemos de que a rua é um espaço público e de que um não é mais dono do que o outro. A rua pertence a todos, o direito de ir e vir não pode ser proporcional às dimensões do veículo e os mais fortes e mais robustos não têm prioridade nas vias públicas. Caso contrário, todos nós teríamos de andar em carros blindados ou em tanques de guerra para poder ter prioridade. Não é isso o que diz o Código de Trânsito nem o que queremos como sociedade.
No caso recente, testemunhas afirmaram ainda ter visto o motorista lançar intencionalmente o ônibus em cima da ciclista. Além da disputa por espaço, os condutores de veículos estão cada vez mais estressados, utilizando as vias públicas para praticar todo tipo de incivilidade e de agressão. É preciso uma mentalidade mais ecológica que leve em conta a cordialidade e o interesse público. Esta realidade precisa mudar, e nós Vereadores temos a obrigação de nos debruçarmos sobre esse assunto.
Aproveito a oportunidade para novamente abordar um projeto em trâmite nesta Casa, de minha autoria juntamente com o nobre Vereador Chico Macena, dentre outros signatários, que visa a garantir direitos básicos aos ciclistas da Cidade. Precisamos, com urgência, agilizar o processo de criação da Frente Parlamentar em Defesa da Mobilidade Urbana. Faço um apelo para que V.Exa., Sr. Presidente, e os demais Colegas aceitem a instalação da Frente Parlamentar em Defesa da Mobilidade Urbana. Só assim poderemos, juntamente com a Secretaria de Transportes, avançar nesse tema.
Sr. Presidente, solicito de V.Exa. o deferimento da publicação do meu pronunciamento na íntegra.