Acabamos de passar dias intensos, deixamos até mesmo de nutrir nossos corpos. E logo, apenas quatro dias depois de tanta intensidade somos instados a construir uma cabana. As instruções são tão explicitas para a construção da sucá, que nos encontramos em meio a situações absolutamente triviais, cotidianas, como que nos lembrando de que o mundo em que vivemos é o aqui, agora, em meio à comunidade, em meio à natureza, e não em algum retiro, desenraizados de tudo. Sucot serve para que percebamos que nossa espiritualidade tem a ver com as relações eu-eu, eu-Tu, eu-comunidade e também eu-planeta.
Sucot, um dos únicos três festivais constantes na Torá, junto com Pesach e Shavuot, nos brinda com vários aspectos metafóricos:
Sucot é também chamado de Festival das Colheitas, que imediatamente nos remete ao respeito que devemos ter com a natureza. O judaísmo desde os tempos bíblicos revela e enfatiza a importância da terra, de sua flora, de sua conservação. Será que existe tema mais atual? reflexão no contexto ecológico!
Também, a sucá serve para nos lembrar da vulnerabilidade do homem, a convivência familiar durante oito dias na precariedade de uma cabana nos recorda de tempos de incerteza, de tempos nômades, em que os judeus atravessaram o deserto, dando um mergulho para o incerto, tendo apenas sua fé como sustentáculo. Mas, mais ainda, Sucot é um período de comunidade. A tradição diz que, durante os dias de Sucot, devemos convidar amigos para visitar nossa sucá, e principalmente, devemos convidar pessoas necessitadas. Está na Torá, na época das festas, o judaísmo nos convida a pensar sempre no outro, no bem estar comum, pensar no pobre, nos órfãos, nas viúvas.
Floriano Pesaro, sociólogo, ex-secretário municipal de Assistência e Desenvolvimento Social da Prefeitura de São Paulo e vereador da cidade de São Paulo.