Desde os tempos ancestrais, existe uma proibição bíblica de cortar árvores frutíferas em tempos de guerra (Bal Taschit – um preceito ambiental bíblico cuja tradução do aramaico significa “não destruir”). O judaísmo desde sempre se preocupou com a natureza e os sábios então estenderam a proibição para qualquer época,inclusive da Paz.
Em Israel, a natureza tem recursos limitados – e o povo precisa, assim, cuidar mais incansavelmente de seus tesouros verdes.
Por isso, quero contar de minha emoção ao plantar uma árvore em solo tão sagrado quanto íngreme. Em uma terra milenar e em meio a um povo que comemora o Tu B’Shvat, todo ano é o Ano Novo das Árvores, plantar uma árvore é exercer plenamente a responsabilidade e o privilégio de tomar conta da natureza. É reverenciar concomitantemente o verde e o sagrado. Além da preservação, é a multiplicação, a transformação do árido em fértil. Hoje, em Israel, novas tradições se somam às já existentes para celebrar a festa de Tu Bishvat. Assim, além de fazer um jantar comemorativo de Tu B’shvat, Israel reforça seu compromisso através de ações concretas, não apenas palavras. Nesse dia, leva-se as preces à sua prática mais concreta: plantando árvores, limpando bosques e praias, participando de oficinas para aprender a reciclar diferentes materiais e a encontrar opções mais amigáveis para o meio-ambiente.
E, sendo o Brasil um país tão exuberantemente rico em recursos naturais, só podemos perceber o benefício do intercâmbio entre estes dois nobres países. Israel e o povo judeu podem nos enriquecer com seus princípios de preservação e com todas as técnicas que desenvolveram para terras áridas. E o Brasil, com seu povo brasileiro sempre imbuído da amizade e da paz, um país que acolhe, abraça e aclimata todo e qualquer estrangeiro que por cá chegue, pode ser um aliado e no espinhoso processo de construção da paz no Oriente Médio.
Hoje, aqui, diante desta platéia e desta autoridade tão competente quanto ponderada, o exmo. ministro Carlos Minc, podemos não sonhar, mas projetar. Projetar um futuro em que a consciência ambiental seja tão natural quanto nossas ações mais corriqueiras, projetar um futuro em que a preocupação com a preservação não permita que se desenvolvam armas de destruição, projetar um futuro em que a paz e o meio-ambiente sejam preceitos indissociáveis. São pessoas do quilate deste ardoroso defensor da ecologia e cidadania que poderão influir em um processo de paz com qualidade de toda e qualquer vida natural. É esta bandeira que devemos desfraldar e defender: respeito ao meio ambiente e reverência pela paz. Nesta frente, tanto Israel quanto Brasil têm muito a dar.
Floriano Pesaro, sociólogo, ex-secretário municipal de Assistência e Desenvolvimento Social da Prefeitura de São Paulo e vereador da cidade de São Paulo.