Quem são o que são os “Ushpizin”?
Ushpizin é uma palavra aramaica que significa “convidados”. Traduzido para o português, a palavra perde um pouco de seu mistério e supra-naturalidade, mas esses “convidados” são bastante misteriosos (pelo menos até aprendermos mais sobre eles) e de supranaturais (pelo menos até torná-los parte do nosso mundo). Nós usamos o termo em aramaico porque a nossa fonte de informação sobre estes convidados místicos vem do Zohar, a obra fundamental da cabala, escrita nessa linguagem mística.
Há sete convidados celestiais que vêm visitar-nos na sucá, um para cada um dos sete dias do festival. Convidados são uma parte importante do lar judaico durante todo o ano – havia até judeus que nunca participavam de uma refeição em sua própria casa a menos que houvesse pelo menos um convidado, de preferência um transeunte carente, com quem compartilhar – mas, especialmente no Shabat e ainda mais especialmente nas festividades judaica constantes na Bíblia (Pessach, Shavuot, Sucot, Rosh Hashaná etc). Durante as festas esta é uma mitzvá especial.
E assim chegamos ao Ushpizin. Ao lotarmos nossa sucá com convidados terrestres, nós ganhamos o privilégio de acolher sete convidados celestiais, os sete “fundadores” do povo judeu: Abraão, Isaac, Jacó, Moisés, Arão, José e Davi. Os cabalistas ensinam que estes sete líderes – referidos em nossa tradição como a “sete pastores de Israel” – correspondem às sete Sefirot, ou atributos divinos, que categorizam a relação de Deus com a nossa realidade, e que são espelhadas nos sete componentes básicos de nosso caráter.
Conforme cada “convidado” celestial honra a nossa sucá, ele nos delega a qualidade particular que o define. É mais precisamente por isso que eles são chamados de “pastores de Israel”: como um pastor que fornece alimento para seu rebanho, estes sete líderes nos nutrem com sua essência espiritual: Abraão nos alimenta com o amor; Isaac com autodisciplina; Jacob com harmonia e verdade; Moisés, eternidade; Arão, empatia; José, sacralidade; e Davi, majestade.
E embora estas sete grandes almas sejam nossos “pastores” durante todo o ano, os sete dias de Sucot são o momento em que sua presença em nossas vidas é mais acentuada e revelada.
Ao entrarmos na “habitação temporária” da sucá, libertando-nos da dependência que desenvolvemos pelo conforto material do lar, colocamo-nos em um lugar em que nosso ser espiritual se revela mais e é acessível. Neste local, o Ushpizin nos visita, nos capacitando para que nos conectemos com as sete dimensões da “imagem divina” de nossa própria alma.
Floriano Pesaro