Compartilho meu mais recente artigo publicado na Revista Clube Hebraica SP para sua leitura e comentários.
“A demagogia do BDS na pandemia
Floriano Pesaro, sociólogo
O movimento antissemita BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções) contra o Estado de Israel – e, também por isso, antissemita – dispensa apresentações e não nos brinda com mínimas expectativas de grandeza, haja vista sua própria natureza. Contudo, no início de abril – quando escrevo essa reflexão – chamou-me atenção a desfaçatez do fundador do movimento, Omar Barghouti, ao dizer que “se Israel encontrar a cura para o câncer, por exemplo, ou qualquer outro vírus, então não há problema em cooperar com Israel para salvar milhões de vidas” durante um “webinar”, seminário virtual, do BDS. O movimento, ainda na descrição do evento, acusava também Israel de “continuar explorando os trabalhadores palestinos sem a mais simples proteção” e acusava os oficiais palestinos de “normalizarem” a cooperação com Israel.
Ora, a desfaçatez e a demagogia já costumeiras desse movimento ultrapassaram os limites do bom senso em muitos aspectos, mas quero ater-me aqui a dois deles: a desfaçatez do movimento ao abordar a posição de Israel frente a um desafio humanitário e a propositada omissão do papel de Israel no desenvolvimento dos tratamentos de saúde.
Comecemos pela insuspeita Organização das Nações Unidas (ONU) que, por tantas vezes, já emitiu comunicados e decisões parciais que desconsideravam a história, o legado e a legitimidade dos pleitos israelenses, dessa vez viu-se impelida em reconhecer, nos mais variados níveis, os esforços de Israel na cooperação com os oficiais palestinos. Esse reconhecimento veio, inclusive, no pronunciamento do secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, que mencionou a estreita cooperação entre Jerusalém e Ramallah durante uma conferência de imprensa anunciando o lançamento do “Plano Global de Resposta Humanitária COVID-19″.
Contudo, quero destacar o que os antissemitas do BDS nem sequer mencionaram: o ramo palestino do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários, longe de ser um órgão imparcial, publicou em seu primeiro “relatório de emergência” que existe uma “cooperação sem precedentes nos esforços destinados a conter a pandemia entre as autoridades israelenses e palestinas” enfatizando o trabalho feito pelo Coordenador de Atividades Governamentais de Israel nos Territórios (COGAT) na organização de treinamentos para as equipes médicas palestinas, da doação de mais de 1 mil kits de testes e milhares de equipamentos de proteção individual (EPIs) e da liberação de US$ 25 milhões para as autoridades palestinas conterem os impactos econômicos da crise – isso tudo, vale salientar, num momento em que os países se estranham mundialmente em buscas desses mesmos suprimentos (testes, EPIs e recursos financeiros) que Israel doa, independentemente de retribuição sequer amigável, para o outro lado da fronteiras.
Além de omitirem os esforços humanitários israelenses na cooperação apesar das incessantes violações e ataques contra Eretz Israel de grupos terroristas abrigados nesses mesmos territórios que hoje recebem ajuda humanitária hebraica, o fundador do BDS chega ao segundo ponto que quero enfatizar: supõe que Israel pode, no futuro, desenvolver curas e tratamentos de saúde dos quais seria legitima – mesmo que o movimento tente promover a escassez de recursos e parcerias contra Israel – sua utilização pelos antissemitas. Barghouti parece esquecer que Israel já fizera centenas de inovações na área de saúde – muitas delas sobre as quais me aprofundei em recente artigo nesse mesmo espaço – que, certamente, gozam de uso dos defensores do BDS sem qualquer constrangimento. Não era necessária, portanto, a “autorização” do líder para que o oportunismo fosse posto em prática.
Israel sempre quis e continua querendo paz e respeito a sua história e seu território e esse é mais um episódio que escancara o antissemitismo do BDS e de setores da oficialidade palestina que sonegam informações e criam falsas narrativas que tentam impor a Israel um papel que não lhe cabe na complexa relação com seus vizinhos. É preciso reiterar que essa é hora de humanismo e os israelenses estão mostrando isso de uma maneira bela e altamente desprendida. Esperamos que, no futuro os defensores do BDS sejam, ao menos, corajosos para assumir sua incoerência quando lhes convêm.”