Mês passado foi o mês da Imigração Italiana no Brasil e eu escrevi na TRIBUNA JUDAICA sobre um recorte específico e significativo, em especial para São Paulo, dessa imigração, a diáspora judaico-italiana. Recomendo a leitura do artigo abaixo:
“A diáspora judaico-italiana ao Brasil
Floriano Pesaro, sociólogo
Não se trata de constatação inédita alegarmos o papel que a imigração italiana teve na formação demográfica brasileira, em especial na cidade de São Paulo com heranças que perpassam a culinária, os costumes, a comunicação, a geografia dos bairros e até signos mais sutis como os gestuais e o modo de falar. Contudo, essa ciência não é consenso quando falamos de uma faceta particular dessa imigração: a ítalo-judaica.
Os judeus tiveram uma longa jornada na Itália caracterizada, de um lado, por períodos pacíficos de convivência e, de outro, por perseguições, expulsões e execuções. Vindos das terras de Israel e da Grécia, os judeus se estabeleceram em grupos no entorno das sinagogas, em especial, na cidade de Roma. Ainda em tímida presença, os judeus foram trazidos em maiores números à bota europeia na conquista da Judéia pelo Império Romano que os inseriu na Itália como prisioneiros e escravos.
Até a ascensão do Cristianismo, os judeus passaram, então, a viver pacificamente e usufruírem do direito de construir suas escolas e sinagogas com forte presença no bairro de Trastevere e na Ilha Tiberina, ambos em Roma. Contudo, quando passaram a ser considerados testemunhas da história cristã, os judeus foram vistos dubiamente pelo Império Romano, ora como aqueles que devem ser tolerados por essa razão, ora perseguidos por – segundo alguns teólogos da época – terem sido responsáveis pela execução de Cristo. Assim começava a primeira grande perseguição aos judeus em território italiano.
A península italiana foi durante séculos – mesmo com as investidas e perseguições do papado de plantão – destino seguro para variadas diásporas, seja do Império Otomano após a Revolução Francesa ou das perseguições na Espanha e Portugal, a comunidade judaico-italiano era numerosa e espalhada pelo país. Contudo, esse cenário de estabilidade se quebrou com a ascensão do fascismo de Mussolini e as perseguições dos regimes nazi-fascista que obrigou a comunidade a deixar a Itália. Estima-se que os judeus somavam mais de 45 mil pessoas antes das perseguições fascistas e, após o fim da perseguição oficial, se viam em 20 mil contando ainda com aqueles que estavam de saída para Israel.
Nesse momento outros lugares do mundo passaram a receber essa comunidade sui genesis na sua própria essência – já que traz características de judeus de várias outras partes do mundo – e um desses lugares foi o Brasil. A imigração italiana no Brasil foi considerável, em especial, na cidade de São Paulo em dois momentos. Primeiramente durante o auge do ciclo do café no Brasil estima-se que cerca de 1,5 milhão de italianos imigraram para o Brasil em busca da sonhada titularidade da terra – que depois veio a ser um ledo engano. Já pouco antes e durante a Segunda Guerra Mundial houve novo ápice na imigração italiana, mas com outro perfil: pessoas fugindo de territórios conflagrados pela Guerra e – no caso dos judeus – perseguidas pelos seus governos.
O Brasil passou, então, a ser um destino para os judeus perseguidos pelo nazi-fascismo na Itália, uma vez que a comunidade, originalmente, havia se instalado no Ciclo da Borracha na região norte do país com considerável sucesso e gozando de tolerância e convivência pacíficas e – também antes da diáspora causada pela Segunda Guerra – haviam comunidades judaicas no sul e sudeste que se instalaram na onda de imigração brasileira do Ciclo do Café.
Ainda que a maioria dos judeus italianos tenham escolhido os Estados Unidos como destino, essa onda imigratória judaica cooperou para que hoje o Brasil tenha a segunda maior comunidade judaica na América Latina, atrás apenas da comunidade argentina. Eu mesmo venho dessa cepa: meu avô, Umberto, e minha avó, Gabriella – ou Nella – Pesaro, vieram com meu pai, Giorgio, ainda pequeno num navio em busca de uma terra que lhes creditasse a liberdade almejada, tal qual tantas outras famílias judaicas nesse período. O Brasil foi para os italianos uma segunda chance por, pelo menos, duas vezes, mas para os judeus italianos, foi a única chance de continuar vivendo.”
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