O Brasil tem mais de 30 milhões de pessoas com 60 anos de idade ou mais. Segundo o IBGE, até 2031 o número de idosos no País deverá ser maior que o de crianças e adolescentes de 0 a 14 anos. O fenômeno é mundial e coloca em foco uma etapa da vida em que a pessoa perde o papel social que ocupava anteriormente, passando a enfrentar situações de exclusão que afetam sua qualidade de vida, sua dignidade e o exercício de seus direitos.
O Brasil possui marcos legais que asseguram os direitos dos idosos, desde a Constituição de 1988, até a Política Nacional do Idoso (Lei 8.842), de 1994 e o Estatuto do Idoso, de 2003. Mas o poder público sozinho é limitado, enquanto em conjunto com a sociedade podemos atuar com muito mais efetividade.
Como? As mulheres representam 56% dos idosos no Brasil. Por outro lado, 60,8% dos lares brasileiros são mantidos por mulheres. Isso implica em trabalhar para manter a família e demanda estrutura de atenção e acolhimento às crianças, para que as mulheres possam buscar o trabalho e a renda necessários para o sustento de suas famílias. Elas precisam de ajuda para a criação de seus filhos. Ao mesmo tempo, ser maioria entre os idosos indica que existem muitas avós disponíveis. E é aqui que as duas pontas do fio da vida se encontram: idosos e infância.
Os idosos precisam de condições de envelhecimento digno, mantendo-se saudáveis e produtivos. As mães precisam de um espaço seguro para deixar seus filhos e poderem cuidar do sustento da família. As crianças precisam de referências, acolhimento e cuidados, para crescerem com raízes fortes, senso de valores e de identidade e estabilidade psicológica e emocional.
Um estudo alemão divulgado recentemente revelou que conviver com os netos reduz em 37% o risco de mortalidade entre os idosos. Quando cuidam das crianças, os avós envelhecem com muito mais qualidade de vida, pois conseguem se manter produtivos por mais tempo. Esses avós estão menos sujeitos a enfermidades decorrentes do envelhecimento, como depressão, debilidade física ou Alzheimer. Além disso, o encargo de cuidar dos netos imprime nos idosos um senso de utilidade, de importância que, naturalmente, com a idade, vai se perdendo.
E a criança que estiver nas escolas por meio período e, na outra parte do tempo, aos cuidados de sua própria família, também terá mais condições de crescer saudável do ponto de vista psicológico e emocional. Psicólogos e pedagogos afirmam que as crianças que crescem orientadas pelos avós desenvolvem mais noções de valores, têm maior equilíbrio emocional e estão menos vulneráveis aos apelos da criminalidade e da violência. É assim que avós e netos podem ajudar a construir uma sociedade melhor.