Na edição de setembro da Revista Hebraica falo sobre a força, a consistência e o que simboliza a democracia israelense na região. Leia o texto na íntegra:
É um despropósito dizer que Israel não é uma democracia
Floriano Pesaro, sociólogo
“Vez ou outra nos deparamos com irresponsáveis afirmações acerca da legitimidade ou amplitude da democracia israelense. Cheia de mentiras e impropérios, elas desprezam que a democracia israelense tem apenas 64 anos e pertence a um pequeno grupo de países – Estados Unidos, Grã-Bretanha e Canadá – que nunca sofreram intervalos de governança não democrática. Desde a sua criação, Israel foi ameaçado incessantemente com destruição. No entanto, nunca sucumbiu às pressões de guerra que frequentemente interrompem as democracias. E pressões deste tipo não faltaram, mas o conflito apenas moderou a democracia israelense que oferece direitos iguais a árabes e judeus, inclusive aqueles que negam a legitimidade do Estado.
Embora, o presente seja a melhor testemunha para a democracia israelense, vamos rememorar nosso passado: quando o sionismo surgiu no final do século 19, os judeus da Palestina e os milhares que se juntaram a eles não tiveram exposição à democracia. O domínio otomano ofereceu parcos traços de democracia e, em seus estágios finais, suprimiu os direitos humanos. Curiosamente, o comunismo – importado da Europa Oriental na forma de fazendas coletivas – Kibutz – influenciou a cultura política da comunidade judaica pré-estatal, ou Yishuv, muito mais do que as ideias republicanas ou de livre mercado.
Já no início do Yishuv, uma particularidade que delinearia a democracia israelense se mostrava: os partidos sionistas eram muito diversos – socialistas, religiosos, nacionalistas – e foram forçados a trabalhar juntos na busca pelo Estado judeu.
A democracia no Yishuv, então surgiu, não apenas da necessidade de construção do Estado, mas também do legado da tradição judaica: a Bíblia questiona o absolutismo e o direito divino dos reis e confere a cada indivíduo direitos e responsabilidades civis.
A democracia em Israel iniciou-se, então, antes mesmo do seu estabelecimento como nação. Já no Yishuv instituições democráticas surgiram, tais como a Assembleia, o Executivo e a Haganá. Direitos Humanos começaram a ser estabelecidos e uma embrionária imprensa iniciou seu trabalho com liberdade, apesar das repetidas tentativas dos árabes palestinos de combater o surgimento do Yishuv.
Já na sua independência, Israel declarou-se oficialmente democrática, livre e igualitária. Um Estado de Direito único em sua região. Todos os cidadãos gozavam a partir de então de igualdade de direitos sociais e políticos independentemente de religião, raça ou sexo, algo revolucionário e único no contexto do Oriente Médio. Ainda mais, foram garantidas liberdade de religião, consciência, idioma, educação e cultura, sem fazer quaisquer aspas sobre aqueles que pregam publicamente a destruição do Estado judeu. Sacramentando sua democracia, foi proclamada a Knesset com seus 120 lugares protegidos por um judiciário independente. O sufrágio, por fim, era universal.
Um sonho democrático em meio a uma região repleta de ditaduras e violações de direitos. Liberdade para falar, viver e ser quem quiser ser. Claro que todo o governo, e mesmo sistemas de governo, são passíveis de críticas e merecem eventuais ajustes de acordo com a evolução da própria sociedade, mas afirmar que Israel é antidemocrática é desconhecer sua corajosa história de luta pela liberdade, mesmo que esta, por vezes, ameace sua própria existência.”