Estadão – Polêmica do rodízio faz Câmara mudar voto

Presidente da Casa diz agora que projetos controversos terão de passar por discussão

Diego Zanchetta – O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO – Após ser acusado por vereadores de facilitar a votação do projeto que acaba com o rodízio de veículos em São Paulo, o presidente da Câmara, José Américo (PT), anunciou ontem que não vai mais permitir a votação simbólica de “propostas que julgar polêmicas”. “Eu vou pedir votação nominal. Não vou mais deixar isso (aprovação sem discussão) acontecer.”

Aprovação de projeto causou crise na base de Haddad - WERTHER SANTANA/ESTADÃO-28/5/2014
WERTHER SANTANA/ESTADÃO-28/5/2014
Aprovação de projeto causou crise na base de Haddad

Ele disse também que qualquer líder das 14 bancadas da Casa poderia ter pedido votação nominal durante a leitura da proposta, que durou cerca de 50 segundos. Américo sinalizou que, a partir de agora, somente projetos com nomes de ruas ou homenagens poderão passar por votações simbólicas, sem discussão.

O vídeo da TV Câmara mostra o momento exato da votação do projeto e revela que apenas os vereadores Arselino Tatto (PT) e Floriano Pesaro (PSDB) registraram votos de suas bancadas contrários à proposta. Pesaro ainda alertou no microfone que era “o projeto que acaba com o rodízio”. Mas nenhum dos 53 parlamentares presentes no plenário pediu votação nominal, o que poderia ter barrado o fim da restrição.

No momento em que o vereador Toninho Vespoli (PSOL) ia ao microfone para pedir a verificação nominal da votação, o presidente se apressou em proclamar o resultado final da proposta, como mostra o vídeo. Ao final, vereadores influentes na Casa, como Police Neto (PDS) e Goulart (PSD), avaliaram que o presidente não poderia ter deixado a votação ocorrer sem alertar os demais líderes.

“Qualquer líder poderia ter feito o pedido”, argumentou ontem Américo. Parlamentares também foram ontem ao plenário reclamar que o projeto, de autoria do vereador Adilson Amadeu (PTB), foi incluído na pauta de última hora, sem acordo. Mas não é isso o que os registros da Secretaria-Geral do Legislativo, obtidos pelo Estado, mostram.

O projeto de restrição ao rodízio voltou a tramitar na Casa no dia 17 de dezembro e foi incluído na pauta pela primeira vez em 9 de abril. O texto se repetiu na lista de projetos das pautas de 12 sessões. “Eu sempre presto atenção em todos os projetos da lista, mas, dessa vez, não vi o projeto, ele foi incluído no mesmo dia na pauta”, afirmou Ricardo Nunes, do PMDB. “O líder de governo foi complacente, o governo fez isso para agradar o PTB. O Tatto fez isso para agradar o Amadeu, ficar na boa com um partido de sustentação (do governo)”, discursou Pesaro.

Bastidores. Mas a aprovação do projeto que acabou com o rodízio abriu uma crise na base de sustentação do prefeito Fernando Haddad (PT) e travou a tramitação do Plano Diretor. Na avaliação de líderes ouvidos pela reportagem, o presidente Américo facilitou a votação do projeto na tentativa de atingir o líder de governo, Arselino Tatto (PT), responsável pelos acordos da Casa e postulante à presidência para 2015-2016.

Logo após a votação, vereadores da base foram cobrar Tatto sobre a inclusão da proposta no acordo para a votação simbólica. O vereador petista negou ter feito qualquer acordo com Amadeu. Outro objetivo de Américo seria agradar Amadeu, vereador ligado ao deputado estadual Campos Machado (PTB) e que hoje articula a candidatura do vereador Milton Leite (DEM) para presidente da Câmara.

Haddad afirmou ontem que vai vetar o projeto. “Não entendi. Ninguém falou comigo. Eu vou vetar, claro”, disse.