Primeiro foi o aumento do número de brasileiros em situação de pobreza extrema, de 13,34 milhões em 2016 para 14,83 milhões em 2017. Depois, a volta de doenças que já se considerava erradicadas ou quase, como sarampo e poliomielite. Agora, os alarmantes índices de aumento da mortalidade infantil, que vinha em ritmo decrescente desde 1990. Os últimos seis meses foram marcados pela prova inexorável do retrocesso em que o Brasil se encontra.
A pintura de Portinari que ilustra a capa da revista Veja desta semana, que traz os números da mortalidade infantil, é sombria. Chama-se Criança Morta, uma obra prima que agora parece retratar o futuro próximo. E que ninguém se engane: não estamos falando de um fenômeno pontual, muito menos repentino.
Estamos testemunhando o resultado do desmonte sistemático que o Estado brasileiro tem sofrido em suas políticas públicas de desenvolvimento social, educação e saúde. Refém do assistencialismo demagógico, o problema do equilíbrio das contas do governo é menos de arrecadação e mais de gastos mal feitos.
O Bolsa Família, bandeira mais fulgurante do governo petista, não tirou as famílias carentes da situação de extrema pobreza. Ao contrário, os brasileiros em situação de extrema pobreza passaram de 6,5% para 7,2% da população.
Sob o mantra maniqueísta da transferência de renda acima de tudo, deixou-se de lado as campanhas educativas e lá se foram anos de trabalho na saúde preventiva. Agora os agentes de saúde se desdobram para refazer um trabalho de décadas e voltar a conscientizar as famílias sobre a importância da vacinação.
Nesse meio tempo, o SUS foi aviltado por sucessivos cortes de investimento ou, pior, por gastos mal planejados, mal direcionados, enfim, mal feitos. Programas federais como o Saúde da Família, que sofreu um corte de verba de R$ 1,5 bilhão de 2015 para 2016, e o Rede Cegonha, que foi reduzido em 18%, estão desmoronando.
Enquanto isso, aparentemente imune à realidade, o Congresso continua ignorando o futuro. Somente 45 deputados, eu entre eles, votaram contra a retirada dos tetos de gastos do governo na Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2019. Para os demais, o futuro que nos cabe defender não é o do País, mas os seus próprios, nas urnas. Só que essa conta é cara e sempre, invariavelmente, é paga por todos os brasileiros, desde privilegiados pelos desmandos dos homens públicos até os mais vulneráveis.
No momento em que o mundo procura melhorar os cuidados com a primeira infância, período no qual toda a base de desenvolvimento do ser humano se forma, 14 em cada mil bebês brasileiros não chegam a completar um ano de idade. Nossas crianças estão morrendo. Estamos indo longe demais: matando o futuro do Brasil.
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