A questão era: ninguém queria mais o elevado Costa e Silva como é hoje. Daí partiu a discussão que, na terça (9), levou 170 pessoas à primeira audiência pública na Câmara Municipal de São Paulo para discutir o projeto de lei que cria o Parque Municipal do Minhocão.
Assinado pelos vereadores José Police Neto (PSD), Nabil Bonduki (PT), Toninho Vespoli (PSOL), Ricardo Young (PPS), Goulart (PSD), Natalini (PV) e Floriano Pesaro (PSDB), o PL 10/2014 visa bucolizar a diretriz já aprovada do Plano Diretor que prevê a desativação daquele movimentado complexo viário e “sua demolição ou transformação, parcial ou integral, em parque”.
Mas há quem milite pelo desmonte da estrutura. Sentados em lados opostos do auditório Prestes Maia (maior do que o previamente reservado para o encontro), cidadãos aproveitaram o microfone para discutir suas relações com aquela que talvez seja a mais polêmica obra do mobiliário urbano paulistano.
A sãopaulo elencou trechos do que foi dito na ocasião.
“Lamento informar aqueles que querem o seu desmonte: o parque já existe. A partir do momento que as primeiras restrições de horário de funcionamento foram levadas a cabo para a prefeita Erundina as pessoas já se apropriaram daquele espaço público. Já fizeram dele um parque. É um parque espontâneo, que existe à margem de qualquer regulamentação e que não implica hoje em custo algum para o município”
– Wilson Levy Braga da Silva Neto, 28, da Associação Parque Minhocão
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“Quem defende o parque é quem vai passear. Quem defende o desmonte é que mora em frente. A falta de privacidade é um grande problema que nós moradores teremos com o parque. Sobre a poluição sonora, pessoas ali preferem o ruído dos carros ao das festas. Quando se criou o Minhocão, houve um impacto muito grande nas pessoas que ali estavam. Foi uma coisa terrível. São 43 anos que as pessoas sofrem neste problema, com aquela poluição do ar, sonora e doenças. Ninguém se preocupou em realmente dar uma solução nesse tempo. Essa é chance daquelas pessoas que estão ali, naquele sofrimento, saírem desse problema. Então pedimos que não aprovem esse projeto”
– Yara Goes, 64, integrante da Ação Local Amaral Gurgel
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“O que nós devemos perguntar é a quem isso vai interessar. E contra quem, como sempre foi, tal ato vai servir. Desmontar ou não derrubar, eis a questão”
– Paulo Goya, secretário do Conselho Participativo da Sé
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“É maravilhoso ficar no meio dos passarinhos, vendo as plantas… Mas cada macaco no seu galho! Em cima do Minhocão, não! É transpor os problemas debaixo para cima. É transformar o Minhocão em uma favela suspensa! ninguém mais sai do meu prédio [na r. Dr. Albuquerque Lins] depois das 20h, porque é tiro e queda: saiu, é assaltado”
– Francisco Machado, 67, síndico e membro do Conseg Santa Cecília
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“Me convidaram para participar, e eu vim”
– Eurico Rocha, 57, que “representa uma parcela dos universitários da Vila Buarque”, que chama de “Quartier Latin”
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“Imagine sem o Minhocão, com árvores e ciclovia embaixo. Um exemplo pode ser a av. Pacaembu. Ela é deslumbrante! Que seja claro: vai gastar dinheiro pra fazer parque, supondo que seja aprovado? Podem saber que vai ter sérios problemas judiciais. Isso é indiscutível”
– David Abrão Calixto, 51, presidente da Apajafesp (Associação dos Paisagistas, Agrônomos, Jardineiros, Floristas, Ecologistas e Empresas do Segmento)
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“A gente se preocupa como que ficaria, por exemplo, o nosso bairro, a nossa região, no caso tanto do parque suspenso quanto derrubando. Como é que vai ficar o comerciante? Não vai virar cracolândia, não. Um parque elitizado a serviço da especulação imobiliária. Vai ficar caro de se viver, vai ter comerciante expulso e a padaria não vai se chamar mais padaria, e sim Paneteria”
– João Batista Largo, do grupo Veredas
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“Na questão do uso de espaço, é possível ser criativo. Poderíamos, por exemplo, criar um mercado de plantas lá em cima. Um parque suspenso convida a um mercado de plantas. Isso pode ser criado por quiosques. Os quiosques podem ser usados para gerar gerar empregos, para gerar imposto, que podem manter o parque. Então essas são soluções criativas que precisam sair da alçada de ideias pré-concebidas”
– Davi de Lacerda, 42, morador da Santa Cecília
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“Gostaria de abrir a minha sacada e respirar o verde, mas sei que não vai ser isso. Já vejo gente fumando baseado e o cheiro entra no meu apartamento. Bola já quebrou o vidro da vizinha e o síndico não quer pagar”
– Maria Angela, 58, moradora do primeiro andar em frente ao Minhocão
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“Resolvidos problemas de barulho, horário, segurança e social, não consigo imaginar como a ausência desse imobiliário pode ser melhor que um parque, como pessoas são piores que carros”
– Felipe Morozini, 39, fotógrafo e diretor da Associação Parque Minhocão
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“Por que não fazer um parque linear sem Minhocão? Não adianta nada tirar o Minhocão e a avenida virar uma nova Santo Amaro. Nem fazer um parque e continuar um cemitério embaixo”
– Pedro Ciccone Teixeira, 27, morador da região
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“Hoje à noite já acontece sexo ao vivo, miséria e gente fumando maconha etc. A segurança no Estado já é precária e vamos criar mais um ponto de insegurança”
– José Geraldo S. Oliveira, vice-presidente do Conseg Santa Cecília
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“O Minhocão é uma cicatriz infecionada. Não tenho coragem de caminhar por baixo depois das 22h. Não dá pra a gente criar um paliativo”
– Rosa Sílvia Lopez, 51, coordenadora do Instituto Rede Brasilidade, moradora da rua Barão da Campinas
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“O Minhocão tem embaixo dele um cemitério que não recebe luz há 40 anos. Vida precisa de luz. Pessoas lá embaixo esperando o ônibus, indo para a Santa Casa, respiram poluição. Por hora sou a favor do desmonte”
– Maria Valéria Farhat, 54, professora