Amigas e amigos, compartilho com alegria meu mais recente artigo publicado na Revista do Clube Hebraica com o título “Enfim, a alegria de Chanucá”.
“Enfim, a alegria de Chanucá
Floriano Pesaro, sociólogo.
Neste ano tão difícil todos nós, alguns mais e outros menos, mas todos, sofremos muito. Perdemos entes queridos, fomos privados dos encontros que nos faziam bem e tivemos nossos trabalhos e nossas rendas impactadas. Foi um ano desafiador que nos exigiu muita resiliência e espírito de corpo e quero começar esse artigo expressando meus mais sinceros sentimentos a quem teve entes queridos levados pela Covid-19.
Seguro de que estamos caminhando para o fim desse conturbado e triste episódio da história da humanidade, quero lembrar que estamos no mês da Festa de Chanucá e que alegria ela nos traz. Alegria porque ela traz o símbolo da libertação do povo judeu através, justamente, da união e da resiliência frente às adversidades.
Brevemente, vamos retomar à História: nosso povo vivia, há 2.000 anos, em Eretz Israel de modo autônomo e livre, ainda que nossa terra fosse controlada pelo rei selêucida da Síria. Trocávamos a nossa liberdade religiosa pelo pagamento de impostos ao tirano invasor, o que, apesar dos infundados preconceitos, mostra nossa elevação moral e religiosa enquanto povo.
Em determinado momento dessa dominação, o tirano Epifânio assumiu o trono do que restou do império grego e se deu por convencido de que a existência dos judeus praticando sua religião em suas terras não seria mais tolerada. O tirano ordenou que aqueles que insistissem em permanecer nas terras da Judéia deveriam seguir a cultura, os costumes e o culto às divindades gregas.
Ao notar que existia relevante resistência do povo de Moisés ao cumprimento da ordem imperial, principalmente em Jerusalém, Epifânio sufocou violentamente revoltas judias e construiu um altar para Zeus sobre o Templo Sagrado judaico. Buscando subjugar a alma dos judeus, o tirano ainda profanou o Templo com o sacrifício de animais não kasher e proibiu a leitura da Torá.
Muitos de nós foram mortos, outros escolheram tirar a própria vida a abandonar D’us e a Torá naquele momento. Contudo, os judeus conceberam o primeiro milagre de Chanucá, de ordem prática, derrotando – sob comando de Yehudá Macabeu, da família dos Hasmoneus – uma ofensiva militar dos greco-sírios sobre Modim, no sul de Jerusalém. Um pequeno exército de judeus camponeses venceu o temido exército imperial, libertou Jerusalém do domínio selêucida e purificou o Templo Sagrado.
Essa é a motivação pela qual celebramos a Festa de Chanucá. Somos livres e estamos livres pelo suor, pelo sangue e pelo esforço de nossas próprias mãos sempre guiadas por D’us e pela Torá. Depois desse primeiro milagre na Judéia, nosso povo foi agraciado com um segundo. Após a purificação do Templo, outrora profanado, deu-se conta de que havia apenas um jarro de azeite selado e intacto para que as luzes da Menorá fossem acessas. Nessa altura, sabia-se que as luzes permaneceriam por apenas um dia diante daquela quantidade escassa de azeite.
Contudo, como se para celebrar tal conquista desse povo de tanta História e devoção, a luz que emanou da Menorá perdurou por oito dias.
Por isso, sugiro que celebremos com alegria, apesar deste difícil episódio pelo qual passa a humanidade. Celebremos porque fomos resilientes, mais uma vez em nossa história, e porque levamos nos nossos corações infinita esperança que nos assegura D’us e a Torá.
Acendamos, então, cada vela da chanuquiá ao brilhar das estrelas e ao pôr do sol na véspera do Shabat com essa esperança de que a luz iluminará nosso caminho nos trazendo prosperidade e saúde no ano que virá.”