“Por vezes neste espaço, falamos sobre a capacidade de Israel desenvolver tecnologias, inovações e sistemas que – nas mais diversas áreas – trazem revoluções a processos produtivos, relacionais, medicinais e tecnológicos.
De fato, sempre nos chama a atenção que um país com uma área territorial pequena e com uma população que também não ostenta grandes proporções consiga – apesar também das fronteiras hostis – desenvolver tamanha capacidade de alterar sistematicamente o modo como os processos são feitos e os fatos são dados.
Esse motor da inovação vem sendo identificado por estudiosos como resultado de uma série de fatores – investimento público, educação de qualidade e políticas de apoio à inovação, por exemplo -, mas, dentre eles, um bastante curioso: a chutzpá.
A chutzpá é um balizador comportamental encontrado na Shulchan Aruch – catálogo escrito da lei do judaísmo, composta, no século XVI, pelo rabino Yosef Karo. Não há uma tradução única para a chutzpá, sendo que o mais próximo no português seria a “ousadia”.
Estudiosos dos escritos afirmam que a chutzpá existe para lembrar os judeus de que não se devem curvar, temer ou envergonhar-se ao seguir seus caminhos, princípios, ideias e, claro, praticar sua fé.
Um dos episódios mais lembrados para exemplificar o que entendemos por chutzpá é a tentativa de Moshê de salvar seu povo questionando a D’us.
Ainda quando Abraham questionou D’us sobre os planos que Ele tinha para Sodoma e Gomorra. Ali ambos se encheram de chutzpá para defender aquilo no que acreditavam, mesmo que estivessem errados e não tivessem seus pleitos atendidos.
Sob risco de resvalarem para o campo da arrogância e da insolência, chutzpá é o princípio que guia o povo judeu no constante questionamento às regras e processos postos.
Não há nada para nosso povo que está dado e “assim que deve ser”. Se algo existe, tem uma razão e sobre ela não há quem proíba a discussão.
É provável que não só nosso ímpeto inovativo – simbolizado nos incríveis números de startups e criações israelenses – mas, também o apreço de Israel pela democracia e pela liberdade também estejam ligados à chutzpá, ou a essa “ousadia” em português.
Para nós, brasileiros, que somos um povo bastante conciliador e pouco questionador, esse é um princípio judaico que a comunidade pode, e deve, incentivar em seus lares e empresas. É preciso que absolutamente tudo possa ser questionado e que não se tenha medo.
Não há espaço para a inovação e o desenvolvimento socioeconômico em sociedades que cerceiam o direito de as pessoas questionarem outras, familiares, empresas e políticos.
Questionamento e ousadia estão também ligados à diversidade de opiniões. Tal qual em Israel, essa é uma defesa intransigente que devemos fazer também por aqui.
Não se tem inimigo numa discussão familiar, empresarial ou política, tem-se, ao máximo, um adversário ou opositor.
É do contraditório e dos diferentes pontos de vista, movidos pela ousadia, que chegamos ao aprimoramento, condição fundamental para que uma sociedade seja tão bem-sucedida em suas mais variadas formas, como é a sociedade israelense.
A chutzpá é o combustível para a inovação e a democracia que tanto admiramos em Israel e que tanto contribui para o avanço da humanidade em todo o mundo.”