O “papo de ambientalista” está virando realidade
Floriano Pesaro, sociólogo.
Este último mês foi particularmente preocupante quanto aos sinais que os céus nos têm dado. Onde há verão, as temperaturas estão batendo recordes e enchentes ocorrem onde nunca antes se fizeram presentes. Por aqui, o costumeiro frio está se tornando uma sucessão de camadas polares inéditas causando secas que ameaças nossas torneiras. Afinal, terá chegado o tempo sobre o qual aquele nosso amigo – que por vezes era tido como desagradável – tanto alertava? O que, afinal, está acontecendo com nosso clima por todo o globo?
Durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente realizada no Rio de Janeiro de 1992 (Eco 92), a adolescente canadense, Severn Suzuki, fez um forte discurso chamando atenção para a responsabilidade coletiva dos humanos sobre o meio ambiente e sobre sua irreversibilidade.
Naquele momento, os alertas quanto às consequências de um crescimento desordenado da economia que ameaçava os biomas e o equilíbrio químico na atmosfera ainda pareciam alarmantes demais. Os vídeos das camadas polares se desprendendo mais pareciam obra de Hollywood.
Ocorre que hoje, governos, cientistas e cidadãos de todo o mundo estão receosos que o tempo que não demos atenção aos alertas podem já nos ter levado a um ponto de não retorno. No Canadá, foram registradas temperaturas recordes na casa dos 50º. Na Alemanha e na Bélgica, cidadãos estão chocados e os governos não sabem como reagir ao enfrentar enchentes numa proporção nunca antes vista. Nos EUA e no Reino Unido, ondas de calor têm se tornado frequentes demais causando prejuízos humanitários e financeiros.
Em Israel não é diferente: Tami Ganot Rosenstreich, vice-diretora da organização ‘Adam Teva V’Din-Israel Union for Environmental Defense’, defendeu recentemente que o país se prepare para consequências das mudanças climáticas que vem sendo registradas em todo o globo.
Devido à pequena extensão territorial, Israel acaba muito dependente do clima local que, com bruscas alterações ou elevações do nível do mar, pode acarretar sérios prejuízos econômicos ao país. Segundo o ganhador do Prêmio Nobel da Paz e professor neozelandês, James Jim Salinger, os israelenses precisam se preparar para ondas de calor que atingirão 50º nas suas de suas cidades.
Não se trata mais, portanto, sobre acreditar, ou não, em aquecimento global ou abordá-lo sob um ponto de vista ideológico. As mudanças climáticas estão acontecendo apesar da crença, ou não, nelas. Tanto é verdade, que diversos países do mundo – mesmo aqueles que instrumentalizam politicamente a pauta ambiental – reforçaram seus compromissos em conter a emissão de gases estufa e o desmatamento em recente cúpula internacional convocada pelos Estados Unidos.
Segundo cientistas esse movimento, que primeiro toma força internacional com a assinatura do Acordo de Paris, talvez esteja no limite do possível para que nós e nossa imediata próxima geração não passemos por eventos de clima extremo cada vez mais constantes.
Isso porque cientistas têm alertado, como um último sinal, de que estamos próximos do que chamam de “ponto de não retorno”, onde tanto se desmatou, queimou e emitiu-se em termos de gases na atmosfera que a natureza deve, ela própria, agir na biosfera sob as novas condições – desfavoráveis a nós.
Apesar de todo esse cenário preocupante e palpável, ainda assistimos recordes de desmatamento: só na Amazônia, abril deste ano, apesar da pandemia e dos constantes alertas, foi o mês com o maior desmatamento registrado pelo Governo Federal desde 2015. Foram 580 mil km² de matas desmatadas.
Isso significa que, só em abril deste ano, a Floresta Amazônica perdeu o equivalente a mais de dez mil vezes a área da nossa amada Hebraica. A floresta fica longe daqui, mas os efeitos, não tem jeito, vão chegar.
É hora de agir. As grandes empresas e o capitalismo internacional já se movimentam para neutralizar a emissão de gases de suas atividades. Há muito nossos irmãos do KKL Brasil nos chamam atenção. É tempo de acordar. Antes que não haja mais tempo.”