Amigas e amigos, com alegria compartilho para leitura e comentários meu mais recente artigo publicado na Revista do Clube Hebraica SP.
“O povo que inova e muda os rumos do mundo
Floriano Pesaro, sociólogo.
Neste novo ano que se inicia há, majoritariamente, um sentimento entre todos nós: o desejo pela vacina contra o vírus Sars-Cov-2, a Covid-19.
Independentemente de paixões políticas, sabemos que apenas o sucesso da ciência nos livrará dessa lamentável roleta russa – onde, até mesmo jovens com boa saúde, podem desenvolver quadros perigosos do coronavírus – e nos devolver aos braços e abraços de nossos amigos e famílias.
Enquanto os cientistas e as autoridades sanitárias trabalham para que essa realidade chegue ao nosso alcance, podemos explorar um pouco da história por trás da capacidade inovativa que leva ao desenvolvimento de maravilhas como a vacina contra a Covid-19 e como, em boa parte delas, os judeus imprimem suas digitais.
Iniciemos com a vacina desenvolvida pela farmacêutica estadunidense, Pfizer, em parceria com sua par alemã, BioNTech.
O homem por trás do senso de urgência que acelerou, a partir do início de 2020, a Pfizer em busca de um imunizante é o CEO da farmacêutica, Albert Bourla, um judeu nascido no nordeste da Grécia. Bourla viu na parceria com a alemã BioNTech a oportunidade para passar à frente da parceria AstraZeneca/Oxford na corrida pela vacina. E passou.
A parceria entre o executivo judeu e a companhia fundada pelo casal de turcos, Dr. Ugur Sahin e Dra. Ozlem Tureci, foi bem sucedida e, ainda no final do ano passado, passou a viabilizar as primeiras imunizações contra a Covid-19 no mundo com a venda do imunizante Pfizer/BioNTech para os Estados Unidos e para o Reino Unido.
Temos mais um exemplo bem-sucedido no desenvolvimento da vacina. O laboratório estadunidense Moderna, financiado em sua quase integralidade pelo Governo dos Estados Unidos, também iniciou, ainda no final do ano passado, a entrega de seu imunizante contra a Covid-19 aprovado pela agência de saúde norte-americana, Food and Drugs Administration.
À frente da chefia de medicamentos da Moderna está o israelense, Dr. Tal Zaks, formado pela Universidade Ben-Gurion do Neguev, no sul de Israel.
Esses dois exemplos mais recentes de invenções marcantes que tiveram a participação direta de judeus se juntam a um conjunto que representa quase a metade das inovações disruptivas entre a metade do século XIX e o XXI.
Desde inovações sociológicas e políticas, como o Manifesto Comunista e o trabalho vencedor do Nobel de Economia que codificou as explicou as escolhas econômicas humanas irracionais, passando pela invenção do pendrive, do aplicativo de geolocalização, Waze, e chegando até o tratamento da doença de Parkinson e da esclerose múltipla.
Trata-se de um povo que beira 2% da população mundial, mas que soma muito mais inovações e descobertas. Mas, afinal, quais podem ser as razões disso?
No livro “Genius and Anxiety: How Jews Changed the World, 1847-1947.”, o autor britânico Norman Lebrecht nos traz alguns elementos para essa resposta baseado, em especial, nos motivos que levam os judeus a estarem por trás de boa parte das invenções do entre século 1847-1947.
Lebrecht elenca duas principais razões: o estudo e a ansiedade.O hábito pelo estudo, segundo o autor, tem origem no intenso e forçoso zelo à educação.
Com a destruição do Segundo Templo, que visava conter a revolta da Judéia, o culto baseado nos rituais práticos fora, forçosamente, substituído pelo estudo dos textos da Torá. Fez-se, então, preciso e tornou-se hábito cultural o ensino da escrita e o culto à leitura entre os judeus.
O outro fator elencado pelo autor é a ansiedade. Ansiedade no sentido da inquietude que as perseguições aos judeus pela história causaram.
À comunidade não foi dada a oportunidade de um ambiente estável para nos desenvolvermos e nos atermos a determinado grupo de atividades. As diásporas fizeram dos judeus comerciantes, médicos, artistas, intelectuais, compradores e vendedores de terras, enfim, o que fosse possível ser onde estavam.
Por isso, embora não tenhamos as razões científicas pelas quais os judeus de todo o mundo estão envolvidos e cooperam em reflexões, invenções e descobrimentos que mudam a vida de todos, Lebrecht nos traz que elas estão onde mais valorizamos – e assim devemos continuar: nossa história enquanto povo unido e temente as nossas crenças.”
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