É inegável que temos à frente uma pandemia (quando uma doença se espalha em larga escala por todos os continentes) do novo coronavírus, ou 2019-nCoV, que causa a doença COVID-19. Não há como parar um vírus de gripe de se espalhar e nem há razões para pânico, uma vez que a taxa de mortalidade é a considerada baixa pela comunidade médica – 2% na China e 0,7% nos outros países. Contudo, o processo de imunização “em debandada” – ou quando a humanidade começa a responder ao vírus pela própria imunidade – pode ser acelerado com uma recente descoberta israelense que promete desenvolver uma vacina contra o novo coronavírus em até 90 dias.
A novidade foi anunciada por David Zigdon, CEO do Instituto de Pesquisa da Galileia (Galilee Research Institute), que afirmou que há quatro anos o centro israelense trabalha com o desenvolvimento e programação de vacinas por meio da biotecnologia. Os vetores de suas proteínas são adaptados para levar o corpo a produzir anticorpos para determinados vírus. A pesquisa foi iniciada para combater um tipo de coronavírus, que tem como alvo as aves. A conquista foi comemorada pelo ministro de Ciência e Tecnologia de Israel, Ofir Akunis, que é um dos financiadores do projeto.
Independentemente se a promessa da vacina vai se concretizar no prazo, nos chama a atenção que Israel – com suas pequenas dimensões territoriais e populacionais – está novamente na fronteira do desenvolvimento científico. Mas, por que este pequeno país figura sempre no pódio do pioneirismo da ciência? É inegável que aspectos culturais e históricos contribuem para a formação da noção de prioridade de uma sociedade e de seus governos. Aos israelenses não lhes foi dada a pátria sem esforço, luta e consciência.
Portanto, sabe-se a importância de “contar consigo mesmo” o que passa desde a dedicação e participação nas Forças Armadas, pelo reconhecimento da importância de uma Educação de qualidade, até o investimento em Ciência e Tecnologia. Israel investe 4% de seu PIB em pesquisa e desenvolvimento, para efeitos de comparação, o Brasil investe 2,3%. É o segundo país do mundo nesse tipo de investimento proporcional ao seu PIB, atrás apenas da Coreia do Sul, de acordo com levantamento do Fórum Econômico Mundial. E não é de hoje que esse investimento tem trazido resultados rápidos e concretos para Israel: possui o maior número de autores publicados nos campos das ciências naturais, engenharia, agricultura e medicina e, até hoje, dez cidadãos israelenses possuem o Prêmio Nobel em diferentes áreas. Além disso, os israelenses são líderes em patentes registradas per capita.
Mas, esses resultados não se circunscrevem às fronteiras israelenses. Invenções como o T-Scan, para a detecção do câncer de mama; a amniocentese, exame hoje feito em mulheres grávidas de todo o mundo para diagnosticar doenças graves nos fetos; a produção de células humanas a partir do sangue, hoje fundamental para pacientes em quimioterapia; descoberta das funções do componente subcelular que produz as proteínas, que auxiliou o desenvolvimento de remédios para inúmeros tipos de tratamento, como do HIV; e, ainda, métodos modernos e amplamente utilizados para desintoxicação do sangue humano em casos de envenenamento; impactaram e mudaram o panorama da Saúde em todo o mundo.
São ainda invenções israelenses, as drogas balizares nos tratamentos contra a leucemia, esclerose múltipla, parkinson, diabetes, perda de visão e câncer de mama. Logo no início dos assentamentos judaicos, antes da construção do Estado de Israel, era condição sine qua non o investimento em tecnologias de agricultura numa sociedade baseada em extrativismo e pastoreio inserida num contexto semiárido.
A priorização que o povo judeu confere à ciência e tecnologia é tamanha que – considerada também a inequívoca competência – o único secretário municipal de São Paulo judeu, até o ano passado, era o vereador Daniel Annenberg, da pasta da Inovação e Tecnologia. Zelo pela diversidade e pela resiliência frente a situações adversas.
Essas são outras duas características fundamentais que estão relacionadas com o sucesso de Israel nas áreas de pesquisa e desenvolvimento, desde as ciências até o advento de startups inovadoras. Pela experiência militar obrigatória e de alto nível, os israelenses são expostos a uma formação específica e a um ambiente desafiador no qual devem usar seus conhecimentos para produzir soluções sob grande estresse, ou até ameaça de morte.
O Exército é, dessa forma, uma ferramenta radical para a inovação nacional que delineia boa parte da vida dos israelenses. Se o coronavírus terá ou não sua vacina desenvolvida pelos israelenses, o tempo dirá. Em todo o caso, há tempos podemos nos inspirar aqui no Brasil com a importância dada por Israel à Educação, à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e como isso tem efeitos benéficos não só ao país, mas a toda a humanidade.
Floriano Pesaro
Sociólogo