Floriano Pesaro
Imagens de brutalidade e terror aterrorizaram o mundo nos últimos dias dando conta de um ataque terrorista sem precedentes de autoria do Hamas contra o Estado de Israel. Civis sendo mortos indiscriminadamente, famílias sendo separadas com o sequestro de crianças e idosos de dentro de suas casas e uma festa em que jovens pediam paz como palco para 260 corpos assassinados e uma outra centena de raptados e submetidos a atos desumanos que nem merecem ser citados.
Os métodos do Hamas podem ser novidade para o mundo, mas não é para os israelenses.
A partir de muito do que vimos ser discutido nas redes sociais no Brasil, especialmente pela distância do conflito que gera distorções e falsas interpretações com toques ideológicos, é preciso distinguir conceitos básicos. O primeiro deles é um divisor de águas: aterrorizar, agredir, sequestrar, estuprar e matar civis não são atos de revolta popular, são atos de terrorismo.
E se fossem contra militares, tampouco o seriam, era o caso de crime de guerra. Portanto, o maior ataque contra judeus desde o fim do Holocausto não foi nem de perto uma revolta popular palestina, foi um ato de terrorismo deliberado do grupo terrorista Hamas com suspeita de apoio de outros estados nacionais que comungam de um objetivo em comum: o fim do Estado de Israel.
Esse é outro ponto que precisa ficar claro antes de qualquer discussão se estabelecer: o Hamas não deseja a melhora de vida da população em Gaza, tanto é que não é preciso ser especialista em geopolítica para supor que os terroristas sabiam da alta probabilidade de uma resposta extremamente dura de Israel a estes ataques e que esta, certamente, não terá nenhum efeito benéfico à população civil de Gaza.
Também não é preciso ser especialista em relações internacionais para compreender que um ataque terrorista dessa magnitude focado em alvos civis israelenses proporcionando imagens de terror não teria outra consequência, senão jogar terra nas discussões pela paz e na solução de dois Estados na região. Solução esta que não interessa ao Hamas.
O Hamas, e não o povo palestino, vilipendiou o território e a população civil israelense por, pelo menos dois motivos principais: expor a fragilidade no sistema de segurança israelense, tido até então como imbatível; e travar as negociações avançadas de paz entre Arábia Saudita e Israel – este sim, o foco deste ataque.
Após fazê-lo com os Emirados Árabes Unidos e com o Bahrein, Jerusalém estava prestes a firmar um acordo histórico com Riad, que vem empreendendo esforços em diversos setores para se aproximar do Ocidente e se tornar um polo econômico, político e turístico na região. A realização desta aproximação cooperaria muito para a retomada dos diálogos pela paz na região, o que enfraqueceria de maneira decisiva o Hamas.
Um acordo de paz com a existência de dois Estados independentes e soberanos em seus territórios é a única saída possível para reestabelecer a paz na região, mas é preciso que o diálogo não seja com grupos terroristas, como o Hamas. Como já sabido, não é de interesse dos terroristas uma solução de dois estados, desde 2007, quando o Hamas assumiu o controle de Gaza, as negociações travaram, e não por conta de Israel ou do Ocidente, mas dos terroristas que reforçavam seu único objetivo de eliminar os judeus de seu território.
Reitero a importância de separar a população palestina, a Autoridade Palestina, e grupos terroristas como o Hamas: eles não representam a população, senão são braço armado de interesses regionais, econômicos e geopolíticos utilizando os civis de Gaza como escudo para suas operações terroristas.
Não há dúvidas de que o Hamas é um grupo terrorista e sanguinário. Isso é indiscutível. Por isso, nem citados nominalmente devem ser nos meios oficias. Muita gente pode ter estranhado a ausência de sua citação nas declarações do Ministério das Relações Exteriores, das partes do presidente Lula e do vice-presidente Geraldo Alckmin, a ausência da menção ao nome do grupo em suas declarações em condenação ao grupo terrorista.
Mas, não é por acaso: a chancelaria brasileira não dá nomes a grupos terroristas justamente para não lhes prestarem qualquer tipo de reconhecimento por suas atrocidades e tampouco uma ideia de legitimidade sobre a representação palestina, no caso do Hamas.
Ainda vale dedicarmos atenção a dois pontos: o Brasil ocupa hoje posição estratégica como presidente rotativo do Conselho de Segurança da ONU e, nesse papel, convocou imediatamente uma reunião dos países membros para discutir os ataques terroristas do Hamas contra Israel. É a oportunidade do país de assumir função estratégica e serena de mediação do processo.
Outra ação do governo brasileiro da maior relevância: o Brasil foi um dos primeiros países a colocar em ação uma das maiores operações de repatriação de nacionais em curso na região com a utilização de seis aeronaves e expectativa de repatriar 900 brasileiros solicitantes.
A eficiência brasileira é destaque internacional, como exemplo, até o momento da escrita deste artigo, os Estados Unidos ainda não possuem um plano para resgatar seus cidadãos.
Por fim, pode-se discordar de políticas governamentais dos diferentes governos israelenses, que, sempre bom lembrar, é a única democracia liberal da região, mas não se trata disso agora. Trata-se de compreender e discernir elementos fundamentais deste complexo conflito histórico em que os maiores perdedores são os civis israelenses e palestinos, estes feitos de reféns do ódio, da violência e do fundamentalismo de grupos terroristas, com quem devemos veementemente nos opor e exigir sua retirada para que a paz se estabeleça.