Compartilho nesse domingo meu mais recente artigo, escrito junto ao amigo e vereador Daniel Annenberg, e publicado na TRIBUNA JUDAICA sobre nosso papel na construção da História.
“O que o passado nos ensina”
Floriano Pesaro e Daniel Annenberg
Em momentos de angústia e agonia, muitas vezes nos é aconselhado contextualizar nosso mal momento num cenário maior. Assim também podemos pensar os grandes sustos e traumas dos humanos enquanto sociedade: eles são finitos e, com eles, podemos aprender grandes lições. Em especial, o desfecho que leva à aprendizagem não é um fenômeno voluntarista. É preciso um esforço para compreender e aprender neste momento em que vivemos. Temos de confiar na ciência, na racionalidade, mas, também, praticar a solidariedade e valorizar as relações humanas.
A quebra da Bolsa de Nova York, em 1929, por exemplo, foi um fenômeno com forte impacto social provocando demissões, fechamento de empresas, falências e desestabilização da economia mundial. Para superar a situação foi preciso que o governo americano lançasse o “New Deal”, uma série de mudanças que, ao longo dos anos, transformaram os Estados Unidos na economia mais forte do planeta e restaurou o crescimento das economias pelo globo. Além de injetar bilhões na economia do país para evitar a quebradeira das empresas, o governo americano não descuidou das pessoas: criou o sistema de seguridade social, com o seguro-desemprego, e regulamentou o direito de organização sindical.
Assim também foi feito após os horrores da II Guerra Mundial com todos seus episódios inaceitáveis, como o Holocausto judeu. Tanto sofrimento culminou – dentre outros desfechos – na criação da Organização das Nações Unidas (ONU), inaugurando uma nova etapa na relação entre os países de cooperação e paz.
Contudo, notamos ao lidar, de uns anos para cá, com teses e teorias que vão desde um movimento “antivacina”, até a normalização do desmatamento e dúvidas quanto ao formato do nosso planeta, de que esse processo evolucionário não é nem automático e nem garantido para todo o sempre. A vigilância em defesa da ciência, da racionalidade, da liberdade e do humanismo tem de ser permanente.
Foi pela ciência e tecnologia que chegamos até aqui. O automóvel, o elevador, o avião, a geladeira e a penicilina são apenas alguns exemplos do valor da tecnologia para a civilização. No entanto, a ciência é um meio. O mesmo carro que nos transporta pode ser o que nos atropela. O avião que une países também é usado para bombardeá-los. É preciso uma visão humana para colocar a ciência a serviço do bem-estar e da melhoria de vida da população.
É considerando o nosso contexto de lutas e vitórias, sob a batuta da ciência, racionalidade e humanismo, que temos de enfrentar nosso mais novo desafio: a pandemia do novo coronavirus. Em pleno século XXI pode parecer estranho que não consigamos sair de casa por conta de um microrganismo. Mais espantoso ainda é conviver com a dúvida de conquistas que permitiram construir e manter nossa civilização.
Por isso mesmo, nos parece essa ser a oportunidade para um novo salto baseado na valorização da pesquisa, da tecnologia e de seu uso mais humano para construir um futuro melhor. Dentro da nossa própria comunidade, estamos vencendo barreiras presenciais e promovendo nosso convívio comunitário e religioso por meio das nossas redes reconhecendo a força do inimigo, mas num constante esforço para vencê-lo pela ciência, como fazem, neste momento, cientistas em Israel.
Das certezas que podemos ter desse momento é de que a contaminação é rápida, ocorre pelas vias aéreas, afeta duramente os mais os idosos e a melhor maneira de combater o vírus é o isolamento social. A mesma ciência, no entanto, também nos diz que a pandemia é transitória. Pode levar ainda mais alguns meses, mas vai passar.
O que não pode ser transitório é o nosso aprendizado. Vamos utilizar essa experiência para melhorar nossos padrões de comportamento, nos reinventar e fazer o uso mais apropriado e humano possível da ciência e tecnologia.
É sempre importante lembrar que ciência e tecnologia não são de direita ou de esquerda e nem representam, por si só, garantias de avanços para o futuro da humanidade. Ciência e tecnologia são meios, não são fins em si mesmo. Não podem ser ignorados e muito menos mal utilizados. Precisam estar sempre a serviço de uma sociedade mais humana e solidária.”
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