Floriano Pesaro
O cenário global de 2025 apresenta desafios de grande complexidade, identificados pelo Eurasia Group, em sua análise anual. Os 10 principais riscos globais desse ano refletem uma realidade marcada por tensões geopolíticas, avanços tecnológicos descontrolados e incertezas econômicas. Esses fatores, embora impactem o mundo de maneira geral, possuem consequências específicas para o Brasil, que vive um momento delicado em sua economia e política. Este artigo explora esses riscos e como eles podem influenciar o Brasil em 2025.
O primeiro risco identificado é o “G-Zero”, um mundo sem liderança global definida. A ausência de cooperação entre as grandes potências enfraquece instituições multilaterais e dificulta a resolução de crises globais, como mudanças climáticas e segurança alimentar. Para o Brasil, essa fragmentação global reduz sua capacidade de influenciar decisões internacionais e aumenta sua vulnerabilidade em acordos comerciais e ambientais. Por outro lado, a busca por segurança alimentar e energética por parte de outros países pode gerar novas oportunidades para o Brasil se posicionar como fornecedor estratégico.
O segundo risco é o retorno de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos, consolidando o que o Eurasia Group chama de “O Retorno do Rei”. A concentração de poder nas mãos de Trump e de aliados republicanos pode levar a políticas unilaterais que afetam diretamente economias emergentes. Para o Brasil, essa situação é preocupante, já que políticas protecionistas norte-americanas podem prejudicar exportações e investimentos. Além disso, a polarização interna brasileira pode ser intensificada caso Trump manifeste apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro, ampliando tensões políticas e sociais no país.
As tensões entre Estados Unidos e China, terceiro risco da lista, também possuem impactos diretos para o Brasil. A competição entre essas potências afeta o comércio global, pressionando economias emergentes. No Brasil, o aumento das importações de produtos chineses, especialmente em setores como petroquímicos e vestuário, ameaça a competitividade da indústria nacional. Entretanto, o agronegócio brasileiro se beneficia dessa disputa, especialmente na exportação de soja e outras commodities, fortalecendo sua posição como fornecedor estratégico para a China.
As políticas econômicas de Trump, conhecidas como “Trumponomics”, representam o quarto risco global e são especialmente desafiadoras para o Brasil. A elevação das taxas de juros nos Estados Unidos, combinada com um dólar forte, dificulta o financiamento da dívida pública brasileira e alimenta a inflação interna. O Brasil, que já enfrenta um déficit fiscal elevado e juros altos, precisa implementar reformas econômicas para estabilizar sua economia sem comprometer o crescimento. Além disso, a volatilidade nos preços de commodities, como o petróleo, aumenta a incerteza econômica.
Outro risco relevante é o isolamento da Rússia, que continua marginalizada devido à guerra na Ucrânia. Embora o Brasil não esteja diretamente envolvido no conflito, o impacto global da crise energética e alimentar afeta o país. Como um dos maiores produtores agrícolas do mundo, o Brasil tem a oportunidade de se consolidar como fornecedor estratégico em mercados internacionais. Contudo, isso exige investimentos em infraestrutura e políticas que aumentem a eficiência do setor.
A crise no Irã, marcada por uma possível implosão do regime, é outro fator de instabilidade global. Para o Brasil, os impactos diretos são limitados, mas a instabilidade na região contribui para a volatilidade nos preços do petróleo, afetando a economia nacional. Além disso, o aumento da fragmentação geopolítica pode dificultar as negociações comerciais brasileiras em mercados estratégicos.
A falta de regulamentação no uso de inteligência artificial é outro risco significativo para 2025. A aplicação descontrolada de IA, especialmente para fins bélicos, pode criar novas formas de conflito global. Para o Brasil, isso representa um desafio em termos de competitividade tecnológica e segurança cibernética. Investir em inovação e regulamentação é essencial para evitar que o país fique para trás nesse cenário.
Os chamados “espaços não governados”, como regiões sem jurisdição clara no espaço sideral ou marítimo, também representam uma ameaça crescente. Essas áreas são cada vez mais propensas a abusos, desde terrorismo até exploração comercial desregulada. Para o Brasil, com sua extensa costa marítima e ambições no setor aeroespacial, é fundamental adotar medidas de segurança e governança para proteger seus interesses.
O penúltimo risco é o impasse entre México e Estados Unidos, que pode abrir oportunidades para o Brasil. A instabilidade institucional no México e as incertezas sobre o Acordo EUA-México-Canadá podem levar multinacionais a redirecionar seus investimentos para o Brasil. No entanto, aproveitar essas oportunidades exige superar desafios internos, como altas taxas de juros e déficits fiscais.
Por fim, o acordo comercial entre União Europeia e Mercosul surge como uma perspectiva positiva para o Brasil em meio aos riscos globais. Com reduções tarifárias previstas para os próximos anos, o Brasil pode aumentar sua integração nas cadeias globais de valor e atrair investimentos estratégicos. No entanto, os benefícios desse acordo serão sentidos a longo prazo, exigindo paciência e planejamento.
Diante desse panorama de riscos globais, o Brasil precisa adotar uma abordagem estratégica para mitigar impactos negativos e explorar oportunidades. Reformas econômicas, investimentos em inovação e infraestrutura, e maior integração às cadeias produtivas globais serão essenciais para garantir a resiliência do país. Embora os desafios de 2025 sejam consideráveis, eles também oferecem ao Brasil uma chance de se reposicionar como líder regional e parceiro estratégico no cenário internacional.