Primeiro convênio de que se tem conhecimento entre ONG de Cães Terapêuticos e uma casa para refugiados foi notícia no jornal Diário de São Paulo. Leia a íntegra.
“Refugiados ganham amigos de 4 patas
Cães da raça golden retrieverque visitam crianças doentes em hospitais também vão aparecer semanalmente em abrigo de estrangeiros no Centro
Filipe Sansone
filipe.sansone(ã)diariosp.com.br
Há pouco mais de cinco meses, a menina Roberta (todos os nomes usados nessa reportagem são fictícios), de 6 anos, vivia em Luanda, capital da Angola, sob o medo da perseguição a ela e à sua família por serem evangélicos. Na ultima sexta-feira, a garota teve a maior felicidade, desde que chegou ao Brasil, ao receber a visita de Simba, de 5 anos, e Lola, 4.
Eles não são amigos de classe de Roberta, mas, sim, cães da raça golden retriever. Os bichos fazem parte do projeto da ONG Inataa (Instituto Nacional de Ações e Terapia Assistida por Animais), que leva cachorros para visitar crianças doentes em hospitais. Agora eles também vão visitar semanalmente refugiados hospedados na Casa de Passagem Terra Nova, na Bela Vista, Centro.
O local, da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social, é específico para refugiados de guerra, políticos e religiosos, sobretudo mulheres e crianças de países africanos como Angola, Cana e Congo.
“Eu gosto de fazer carinho neles. Eles não são bravos e dão a patinha para a gente. Em Angola os cachorros são grandões e dão medo. Aqui a gente pode ficar pertinho”, contou Roberta, acariciando Simba junto com oito crianças com idades entre 3 e 7 anos. Ao lado do grupo, outros cinco baixinhos, de 5 e 6 anos, brincavam com Lola. Os dois cães, pacientemente, se deixavam afagar.
“Eles podem ficar aqui? Ficaria feliz se tivesse cachorros em casa”, disse uma menina angolana de 7 anos, que chegou com a mãe há seis meses no Brasil por causa de perseguição política. Na hora de dar tchau, os pequenos que se divertiram durante meia hora sentaram-se em frente a Sim e Lola e acenaram com as mãos, momento em que até os poucos refugiados homens na casa abriram um sorriso.
“O cachorro ajuda a melhorar o humor e quebra a desconfiança dos refugiados que chegam com medo de um novo país. É uma maneira de reconfortá-los”, afirmou o secretário estadual de Desenvolvimento Social, Floriano Pesaro.
ENTREVISTA
Diana_ refugiada política de Angola há 1 mês no Brasil
‘Filhos perdem o medo e eu esqueço dos problemas’
DIÁRIO _ Qual a importância dos cachorros para seus filhos e para você?
DIANA_ Em Angola, há muitos cachorros de rua que são ferozes. Existe a vacina da raiva, mas não sabemos se eles estão vacinados ou não. Então a maior parte das crianças, quando vê um cão grande, sai correndo ou se afasta de medo. Essas atividades com os cachorros podem fazer com que meus filhos, de 2 e de 6 anos, possam perder o medo desses animais, tão dóceis e carinhosos.
E para os adultos?
Quando vejo esses dois cães,
minhas crianças se divertindo com eles, perdendo o medo e vendo que podem ser felizes aqui em São Paulo, acabo esquecendo dos problemas de perseguição política que enfrentei no meu país. Esqueço um pouco também dos meus familiares que se uniram para pagar o meu voo e das minhas crianças para São Paulo e da falta que sinto deles. Esqueço um pouco da minha vida.
Pretende visitar a Lola e o Simba quando sair da Casa de Passagem?
Com certeza. Meus filhos vão me cobrar se não fizermos isso.”
Fotos: Edu Garcia/ Diário SP