Ao ler o título desse artigo, é possível que alguns o questionem a partir de exemplos mais atrasados que o Brasil no processo de vacinação contra a Covid-19.De saída, adianto que busco nos comparar com bons exemplos, como de Israel, o país líder na velocidade da vacinação contra a Covid-19.
Fato é que apesar de termos um sistema de saúde estruturado e financiado federativamente, não só não desenvolvemos a tempo qualquer imunizante nacional, como descobrimos que nem sequer fabricamos os insumos básicos para uma vacina.
E pior, seja por falta de comando nacional ou por negacionismo científico, desperdiçamos ofertas de laboratórios e nos colocamos propositadamente no fim da fila mundial pelo imunizante.
Ainda que para alguns a pressa pelo processo de imunização e, agora, a preocupação quanto à rapidez com que se dá esse processo seja fruto de uma ansiedade, ou até motivada por interesses político partidários, é preciso ressaltarmos que vacina não tem ideologia.
Impressiona termos que pontuar com essa pureza a importância da vacinação mesmo após 117 anos da Revolta da Vacina.
Imunizar a população contra este vírus, ou qualquer outro, tem um mosaico de benefícios. O primeiro deles é a preservação da vida, bem maior que todos nós zelamos.
Em seguida constatamos: a retomada da economia, a garantia da liberdade e o respeito à vida do próximo.
Israel está dando um exemplo mundial na imunização contra a Covid-19 e demonstrando ter claro para si, apesar das diferentes colorações político-ideológicas, a importância de vacinar seu povo. A partir de um planejamento bastante prévio e um contato insistente com os laboratórios Pfizer/Biontech e Moderna Inc., Israel garantiu doses mais que suficientes para imunizar toda a sua população e antes de todos os outros países.
Ainda em junho de 2020, o governo israelense fechou acordos com ambos os laboratórios garantindo suas doses e, é claro, pagando o preço dessa preferência.
Mas, por que a pressa? A resposta veio em estudo publicado ainda no final de janeiro: a quantidade de internações por casos graves da Covid-19 diminuiu em 60%. Estamos falando de vidas que foram salvas por conta dessa celeridade. É importante dizer também que diminuindo a hospitalização, os israelenses estão economizando muito mais do que o ágio que supostamente pagaram em virtude da preferência na fila mundial da vacinação.
É verdade que Israel também goza de outros fatores naturais que possibilita uma maior agilidade na vacinação, como o tamanho do território e da população, mas também não foi deixado de lado o controle do espalhamento do vírus.
Com forte controle fronteiriço e medidas duras de quarentena e restrição de circulação, Israel diminuiu sua taxa de contaminação do vírus para baixo de 1, o que significa que cada pessoa contaminada transmite para menos de uma pessoa. Saindo do mundo matemático, na prática, os israelenses domaram o vírus e o estão matando.
Esclarecida a importância da imunização, parece explicar, ao menos em parte, o nosso atraso no processo de imunização o fato do SUS não ter sido capaz de responder ao desafio apropriadamente, tanto em termos de disponibilização do imunizante quanto em capilaridade de distribuição.
Basta lembrarmos alguns fatores: se não fossem as tratativas precoces, tais como fez o governo israelenses, entre o Governo de São Paulo, por meio do Instituto Butantan, e o laboratório chinês Sinovac, estaríamos agora com bem menos brasileiros imunizados. E a fabricação da vacina da Sinovac no Butantan, infelizmente, nada teve a ver com o SUS, como alguns quiseram fazer parecer. Poderia ter sido, mas a verdade é que foi uma tratativa tecno-política, onde o Butantan tem o importante papel de produzir a vacina já desenvolvida.
É evidente que não se trata de criticar o SUS, o exemplo de sistema de saúde público do mundo, fundamental para garantir a cidadania dos brasileiros. Não há como imaginar o Brasil sem o SUS. É importante lembrar, inclusive, que tudo se relaciona ao SUS e todos usamos o sistema. Você, caro leitor, ao abrir a torneira da sua casa e beber água, está usando o Sistema Único de Saúde.
O ponto é, portanto, criticar a crescente falta de investimento na ciência e precarização na gestão do SUS, seja por inépcia, incompetência ou ideologia. Se na década de 90 o Brasil produzia 50% dos insumos para imunizar sua população, hoje produzimos apenas 5%.
Portanto, retornando ao título deste artigo, a vacinação está lenta no Brasil porque há anos o investimento na ciência brasileira é pífio e não é capaz de nos garantir nem autossuficiência na imunização, quanto menos proporcionar inovação fruto de pesquisa e desenvolvimento.
Também está lenta porque o SUS está com a governança comprometida, haja vista sua grave falha nas tratativas que não nos garantiram os imunizantes disponíveis no mercado no tempo hábil.
Agora cabe a nós, brasileiros, cobrarmos de todas as autoridades públicas, independente das preferências ideológicas, a mais rápida disponibilização e distribuição dos imunizantes – seja qual for, uma vez que todos são comprovadamente eficazes e seguros -, esperarmos que as variantes causadas pelas persistentes aglomerações não superem as vacinas e, depois desse pesadelo, garantirmos o financiamento apropriado para a ciência brasileira.”