Floriano Pesaro, sociólogo.
Israel está em alerta e, como deve ser, toda nossa comunidade deve estar. Até o momento que esse texto foi escrito, três atentados terroristas, em cidades no centro de Israel, mataram onze civis israelenses a tiros e facadas. Sabemos que a proximidade do Ramadã costuma trazer agitação aos extremistas que rogam o fim do Estado de Israel, mas parece que, dessa vez, há falta de relação entre os casos e ausência de autoria, o que nos exige ainda mais atenção.
As cidades de Bnei Brak e Ramat Gan, assim como todo o território israelense, não presenciava, desde a última intifada – há quase 20 anos, uma quantidade de baixas de civis tão expressiva e violenta como a que se teve até agora. Pessoas abrindo fogo nas ruas indiscriminadamente levando morte e pavor a toda à população.
Não se trata, no entanto, de fazermos um paralelo entre o fenômeno passado e os ataques atuais que se assemelham muito mais aos chamados “lobos solitários”, como ficaram conhecidos, especialmente nos Estados Unidos, terroristas que agem sozinhos, sem orientações ou apoio, mas guiados por ideias de grupos extremistas e por agitadores em redes sociais.
É nesse sentido que nossa atenção deve estar voltada: a propagação de ideias extremistas, que ganha força em redes sociais pautadas em fake news e, principalmente, na ausência total de regulação dos meios digitais – alcança a superfície quando encontra sujeitos indecentes do ponto de vista moral e socialmente excluídos que resolvem levar o ódio e o extremismo das redes para a vida real.
É urgente, também, que chamemos a comunidade internacional a condenar os ataques a civis, seja a forma de execução que tiveram.
Pudemos ver o quanto a pressão da sociedade civil e das empresas pode fazer no caso do massacre russo na Ucrânia e, ainda nesse sentido, como o silêncio de países árabes vizinhos a Israel – inclusive alguns dos quais se dispuseram recentemente ao diálogo diplomático – pesa como uma silenciosa legitimação aos ataques.
O maior risco a Israel, hoje, é que a sequência de atos terroristas motive, como uma praga, ainda mais ações que levem pânico ao país enquanto assistimos uma falsa e cínica evasão de parte da sociedade civil que tenta normalizar o assassinato de civis por questões políticas e ideológicas. Terrorismo deve ser condenado não importa contra quem quer que seja – a vida de civis, homens, mulheres e crianças devem ser protegidas.
É verdade que líderes árabes israelenses, e até o líder da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, se manifestaram contrários e condenaram os ataques, mas é preciso que, também a comunidade árabe, se manifeste em peso condenando o terrorismo nas ruas de Israel para que não se tenha nenhuma sombra de estímulo a novas ações.
Enquanto essas condenações públicas ocuparam jornais, doces eram entregues nas ruas de Gaza numa celebração macabra dos ataques por grupos jihadistas – justamente o tipo de atitude que pode suscitar a promoção de novos ataques.
Não há motivo, ainda, para o pânico, mas, como sempre, de elevada atenção e alerta, principalmente em Israel – além da necessidade que se cobre a condenação mundial desses ataques.
Apesar de não apresentarem, até o momento, uma motivação ou correlação únicas, há que se observar o desenrolar internacional de alguns episódios: neste mesma Tribuna venho alertando sobre os efeitos globais que vêm sendo sentidos – e que podem escalar – desde a retirada dos Estados Unidos do Afeganistão e, ainda antes, quando o ex-presidente americano, Donald Trump, passa a se voltar quase que exclusivamente para assuntos internos.
Esse movimento americano é acompanhado de uma Europa preocupada em manter seu nível de welfare state enquanto assiste a uma contínua e, ainda sem solução, crise de refugiados – agravada agora com o conflito na Ucrânia. Ou seja, a concertação de potências que podem responder à altura de autoritários, ditaduras e grupos terroristas vem batendo em retirada e assistindo – vide Afeganistão e Ucrânia – esses elementos avançarem com ameaças, invasões e tomadas de poder.
Nesse sentido, é preciso atenção redobrada em lugares como Taiwan, Israel e Coreia do Sul, principalmente, mas em todo o globo quando esse aparente recuo do regime internacional pode promover a desordem e o extremismo num mundo interconectado e desregulado, onde a barbárie é travestida de liberdade.”