Mas o que é que acontece com a diplomacia brasileira?
Há muito pouco tempo passamos pelo quase vexame de receber um déspota belicista, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. E agora o Brasil prefere preterir a nomeação de um seu representante legítimo, o engenheiro Márcio Barbosa, para apoiar outro candidato estrangeiro – o egípcio Farouk Hosny – para dirigir um órgão da importância da UNESCO – organização da ONU para a colaboração internacional no setor de educação, ciência e cultura.
Além do mais, lamentavelmente, este candidato apoiado pela diplomacia brasileira tem um histórico confirmado de antissemitismo. Citando carta aberta de três dos intelectuais mais respeitados da Franca, o senhor Farouk Hosny afirma que “Israel nunca contribuiu para a civilização, em qualquer era, pois sempre apropriou-se de contribuições de outros.”
O mesmo senhor, ao responder a um deputado do Parlamento Egípcio que estava preocupado que livros israelenses pudessem fazer parte do acervo da Biblioteca de Alexandria, declarou: “Queime estes livros; se ainda houver algum por lá, eu mesmo os queimarei diante do senhor.”
Não esqueçamos que pessoas com afã de incendiar livros, evoluem em sua loucura e acabam gostando de queimar, às vezes até pessoas!
Como confiar um dos mais importantes cargos de responsabilidade cultural do planeta para alguém que disse que Israel era “auxiliado” em suas intrigas obscuras pela infiltração de judeus na mídia internacional e por sua diabólica habilidade de “espalhar mentiras.”
Nesta empreitada de protesto contra a candidatura de Hosny Farouk, cerramos frente com pessoas do calibre do presidente francês Nicolas Sarkozy, da secretária de Estado Hillary Clinton, de vários governos asiáticos, europeus e da África.
O Brasil enquanto povo certamente não quer a nomeação de uma pessoa perigosa, um incitador de idéias racistas, contumaz apologista do ódio e terror.
E tampouco o povo brasileiro concorda em menosprezar um cidadão seu, legítimo postulante ao cargo. Este homem é o engenheiro Márcio Barbosa, que já é o diretor adjunto da UNESCO, foi diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Segundo funcionários do governo e parlamentares que acompanham sua trajetória, um dos méritos de Márcio Barbosa junto com o atual diretor-geral do organismo, o japonês Koïchiro Matsuura, foi trazer de volta à UNESCO os Estados Unidos, que estavam afastados desde os anos 80.
O caminho natural para a direção-geral da UNESCO deveria favorecer o Brasil, pois criamos expertise em várias áreas, como o programa Bolsa-Escola e a pesquisa e o uso bem sucedido de alternativas energéticas – caso do etanol. Como bem disse o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Eduardo Azeredo: “Lamento o Itamaraty ter tomado essa decisão. Havia chances reais de o Brasil dirigir um órgão da importância da UNESCO. O governo deveria apoiar um dos brasileiros”.
O tempo urge, e o tom dos protestos deve acentuar-se para evitar tal descalabro de nossa diplomacia.
Floriano Pesaro, 41 anos, sociólogo, ex-secretário municipal de Assistência e Desenvolvimento Social da Prefeitura de São Paulo e vereador da cidade de São Paulo.