Hebraica – “Os riscos das narrativas”

Por toda a História, os judeus foram objeto de narrativas que nos rotularam sob os mais diversos aspectos.


No Egito, no Irã, na Alemanha e em tantos outros lugares, à comunidade judaica foram postos julgamentos, preconceitos e percepções que embasaram historicamente a perseguição histórica sobre nosso povo.


Vez ou outra, nos atentamos, mas demoramos a agir para dissipar esse esforço antes que seja tarde.


É essa a oportunidade que nos é, agora, dada no Brasil.


Não é incomum que escreva aqui por diversas vezes as razões pelas quais temos que nos orgulhar de Israel e da nossa comunidade. Os motivos são de toda a sorte.


A bandeira nacional é sinônimo de progresso social e econômico, de uma sociedade altamente educada e democrática, de desenvolvimento tecnológico, da convivência entre diferentes religiões, do apreço ao Estado de Direito e da força militar de defesa implacável.


Se todos esses predicados são verdadeiros, também o são aqueles que apontam o respeito à diversidade, a convivência pacífica entre diferentes, o apreço pela liturgia dos cargos e o irrestrito compromisso com a democracia.

Os israelenses guardam atenção especial à representação dos diferentes grupos da sociedade no Knesset. Israel é o porto seguro da liberdade e da democracia no Oriente Médio.


Apesar disso, estamos vendo um movimento que tenta reduzir a grandiosidade de Israel – e, por consequência, da nossa comunidade – a um simbolismo quase folclórico.


É verdade que a Israel da Mossad e do Reino de Salomão orgulhosamente existem, mas não hermeticamente e apartada de todas as outras características modernas que, juntas, impedem que a sociedade israelense e a comunidade judaica caibam em narrativas políticas.


Há alguns anos, sabemos, judeus brasileiros, da tentativa de grupos políticos de imprimir às suas causas um imaginário em torno de Israel por meio do uso extensivo da bandeira nacional.


Nossa comunidade, bastante experimentada pela História, sabe dos riscos que corremos quando tentam nos impor determinados rótulos e fazer com que Israel caiba no simbolismo que alguns o querem.


Nossos ancestrais que viviam no Reino da Sicília deixaram na História importantes lições para que possamos refletir. Nos idos de 1300, sob o reinado de Frederico II, a comunidade judaica era marcante.


Estimativas apontam que entre 5% a 8% da população pertencia à comunidade, que tinha forte atuação na medicina, na educação e no comércio – além de uma particular aproximação com o reinado.


Assim como em todos os lugares onde os judeus foram assimilados, aceitos e respeitados, a Sicília, de outrora, viu por décadas seu progresso econômico, social e educacional disparar e se tornar referência na região estratégica – entre a Europa, a África e o Oriente Médio.


Contudo, a fidelidade e a proximidade dos judeus sicilianos ao reinado não lhes pouparam da traição. Com a ascensão, nos idos de 1490, do casal Fernando de Aragão – Fernando II – e de sua esposa, Isabel I de Castela, buscou-se a erradicação de todos aqueles que não eram católicos e, por consequência, a determinação de conversão forçosa ou expulsão de toda a comunidade judaica que vivia na Sicília.


Nada importou a relação próxima que a comunidade sempre manteve com o vice-reinado da Sicília ou os serviços prestados que alçaram a região a um status de entreposto comercial europeu. Tudo lhes foi retirado sem a menor cerimônia e – como de costume – aos judeus foram impostas “culpas” absurdas, como o fato do casal real não conseguir ter um sucessor do sexo masculino.


Nós, judeus brasileiros, sabemos o que somos, nossa contribuição ao Brasil e o que Eretz Israel representa como sociedade plural e democrática.


É nossa responsabilidade manter a bandeira de Israel acima de questões político-partidárias não incorrermos no risco de combater o tão insistente antissemitismo abastecido com teorias e rótulos que vimos sendo alimentados.”


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