Nesta semana estive debatendo com alunos do ensino médio em duas oportunidades. Eles têm uma grande preocupação com os rumos que a educação vai tomar no País. Conversamos muito sobre isso e sobre outras questões sociais. Esses debates sempre me fazem refletir sobre a complexidade de se cuidar do desenvolvimento social.
Enquanto eu debatia com os jovens sobre educação, o IBGE e o Ministério da Saúde divulgavam dados alarmantes sobre a falta de saneamento básico e suas consequências. No ano passado, segundo o Ministério da Saúde, o SUS gastou R$ 100 milhões somente com o atendimento de pessoas com doenças ligadas à falta de saneamento básico (diarreia, verminoses, difteria, cólera, leptospirose, malária, hepatite, dermatites, febre amarela, malária, dengue, zika, chikungunya). Dos 5.570 municípios brasileiros, 34,7% enfrentam endemias ou epidemias dessas doenças por falta de saneamento básico.
O que isso tem a ver com educação? Dados da Unicef apontam que apenas uma dessas doenças, a diarreia, é a segunda maior causa de mortes em crianças abaixo de cinco anos de idade. Adicione-se ao caldo insalubre a malária, a febre amarela, a hepatite, a dengue, a zika e outras doenças incapacitantes temporária ou permanentemente e encontramos a ligação entre os temas. Sim, ainda precisamos fazer muito para colocar todas as crianças e jovens na escola, do infantil ao ensino Médio. Mas como mantê-las ali se estão doentes? Sim, há muito o que melhorar na qualidade do ensino. Mas como fazer com que isso se reflita de forma efetiva na vida dos alunos, se com a saúde debilitada, não têm condições de absorver o que a escola poderia lhes proporcionar?
Desenvolvimento social é um trabalho multidisciplinar que não dá resultados se for fatiado em abordagens estanques e demagógicas. Os frutos de uma boa escola depende de alunos saudáveis e capazes de responder positivamente aos estímulos e conteúdos que lhes são providos.
A meta do Plano Nacional de Saneamento Básico é a de universalizar o saneamento e o acesso à água potável até 2033 (três anos depois da meta da ODS 6 da ONU de assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos até 2030). O custo do cumprimento dessa meta é estimado em investimentos anuais de R$ 15 milhões durante 20 anos: apenas 15% dos gastos do SUS com doenças decorrentes da falta de saneamento. Se acrescentarmos a essa equação o cálculo da Organização Mundial da Saúde de que para cada dólar investido em saneamento são economizados US$ 4,3 em saúde, a pergunta que resta é inevitável: o que estamos esperando?
Vamos falar de educação. Mas vamos falar também de saúde, saneamento, alimentação, trabalho, sustentabilidade. Não somos apenas uma escola, ou um rio, ou uma cidade, ou uma estatística. Somos um todo e assim devemos ser considerados, com políticas integradas que atendam as demandas e necessidades conjuntas.