Tribuna – A perspectiva histórica do conflito judaico-palestino

Floriano Pesaro, sociólogo

O conflito entre judeus e palestinos é uma das questões mais complexas e prolongadas do cenário internacional. Suas raízes profundas se entrelaçam com a história, a religião e a política, envolvendo uma luta pela terra que ambos os povos consideram sua. Este artigo busca analisar o conflito a partir de uma perspectiva histórica, considerando a visão sionista e a criação do Estado de Israel.

As Origens Históricas

A presença judaica na Terra de Israel remonta a milhares de anos, com registros bíblicos que datam do século XIII a.C. A região, conhecida como Canaã, foi habitada pelos hebreus, que formaram os reinos de Israel e Judá. Ao longo dos séculos, a terra foi conquistada por diversos impérios, incluindo os babilônios, persas, gregos e romanos. Em 70 d.C., após a destruição do Segundo Templo de Jerusalém pelos romanos, começou a diáspora judaica, dispersando os judeus por diversas partes do mundo.

O Movimento Sionista

O movimento sionista surgiu no final do século XIX como uma resposta ao crescente antissemitismo na Europa. Liderado por figuras como Theodor Herzl, o sionismo defendia o retorno dos judeus à sua terra ancestral e a criação de um estado judeu. Herzl, em sua obra “Der Judenstaat” (O Estado Judeu), escreveu: “Se vocês o quiserem, não será um sonho.” A primeira conferência sionista em 1897, em Basileia, na Suíça, marcou o início oficial do movimento. Herzl e outros líderes sionistas acreditavam que a solução para a questão judaica residia na autodeterminação nacional em uma pátria própria.

A Declaração de Balfour e o Mandato Britânico

Em 1917, durante a Primeira Guerra Mundial, o governo britânico emitiu a Declaração de Balfour, prometendo apoiar o estabelecimento de um “lar nacional para o povo judeu” na Palestina. Após a guerra, a Liga das Nações conferiu à Grã-Bretanha o mandato sobre a Palestina, com o objetivo de implementar a declaração. A imigração judaica para a Palestina aumentou significativamente, especialmente devido às perseguições na Europa.

A Tensão entre Judeus e Árabes

A imigração judaica e a compra de terras pelos judeus levaram ao aumento das tensões com a população árabe local. Revoltas árabes ocorreram em 1920, 1921 e 1929, culminando na Grande Revolta Árabe de 1936-1939. Os árabes palestinos se opunham à criação de um estado judeu e temiam a perda de sua terra e identidade. Em resposta, os britânicos limitaram a imigração judaica, especialmente durante os anos do Holocausto, o que gerou grande frustração entre os sionistas.

A Criação do Estado de Israel

A tragédia do Holocausto, onde seis milhões de judeus foram assassinados pelos nazistas, reforçou a necessidade de um estado judeu. Em 1947, a ONU propôs um plano de partição para a Palestina, dividindo a terra em estados judeu e árabe. Os líderes sionistas aceitaram o plano, mas os líderes árabes e palestinos o rejeitaram. Em 14 de maio de 1948, David Ben-Gurion proclamou a independência de Israel, afirmando: “O sonho de gerações se tornou uma realidade.” No dia seguinte, uma coalizão de países árabes invadiu o novo estado, iniciando a Guerra de Independência.

As Guerras Árabe-Israelenses

Israel conseguiu se defender e expandiu suas fronteiras além das previstas pelo plano da ONU. Nos anos seguintes, ocorreram várias guerras entre Israel e os países árabes, incluindo a Guerra de Suez (1956), a Guerra dos Seis Dias (1967) e a Guerra do Yom Kippur (1973). Cada conflito resultou em mudanças territoriais e um aumento na complexidade do conflito.

O Processo de Paz e os Desafios Contemporâneos

Desde os anos 1970, houve várias tentativas de paz. O Tratado de Paz entre Israel e Egito em 1979, e entre Israel e Jordânia em 1994, foram marcos significativos. Contudo, o conflito com os palestinos permanece sem solução. A assinatura dos Acordos de Oslo em 1993 trouxe esperanças de uma solução de dois estados, mas a violência continuou.

A Perspectiva Sionista

Para os sionistas, a criação de Israel é a realização de um sonho milenar de retorno à terra ancestral. Israel é visto como um refúgio seguro para os judeus, especialmente após o Holocausto. David Ben-Gurion, primeiro-ministro de Israel, afirmou: “Em Israel, para ser realista, você deve acreditar em milagres.” A defesa do estado judeu é considerada essencial para a sobrevivência e a segurança do povo judeu. Além disso, Israel é um exemplo de democracia e desenvolvimento no Oriente Médio, contribuindo significativamente para a ciência, tecnologia e cultura mundial.

Conclusão

O conflito judaico-palestino é complexo e multifacetado, enraizado em uma longa história de reivindicações territoriais e identitárias. A perspectiva sionista vê a criação de Israel como um ato de justiça histórica e uma necessidade para a segurança do povo judeu. A paz duradoura exige reconhecimento mútuo, negociações honestas e um compromisso genuíno com a coexistência pacífica.