Tribuna – Ocidente volta a ser ameaçado com Ucrânia

Floriano Pesaro, sociólogo.

No último artigo que escrevi neste honroso espaço abordei sobre o desenvolvimento nuclear iraniano que voltou a ser posto em prática sob os olhares incautos dos países ocidentais, em especial, dos EUA.

Nesse mesmo sentido, também está em curso, uma negociação fundamental para a estabilidade política internacional envolvendo Rússia, EUA, União Europeia e OTAN sobre as ameaças russas de invasão ao território ucraniano.


O conjunto desses episódios apontam para uma onda de ameaças à hegemonia ocidental, sob égide dos EUA e da União Europeia, principalmente, após a polêmica saída dos americanos do Afeganistão. E, por isso, Israel deve estar em alerta.


Após a conturbada e polêmica saída dos EUA da maior guerra de sua história no território afegão, o mundo, em especial aqueles históricos adversários geopolíticos dos americanos, viram a sinalização de uma potência que busca evitar envolver seus recursos em conflitos externos.


Passo seguinte, cientes da posição americana no campo internacional, as partes adversárias às posições dos EUA em uma série de conflitos passaram a colocar-se em situação limite de negociação.


Exemplo disso, como falamos no último artigo, foi o Irã que passou a exigir o levantamento de todas as sanções internacionais a que é submetido para que reinicie as tratativas sobre seu programa nuclear em patamares anteriores – que, segundo especialistas, já representaria um potencial nuclear perigoso para a região, em especial, Israel.


Os EUA agora, após a saída do tratado durante o Governo Trump, e a comunidade internacional enfrentam dificuldades para convencer Teerã a rever sua produção.


Mais recentemente, é a Rússia que testa os limites da diplomacia americana com a movimentação de tropas em suas fronteiras com a Ucrânia e, nas últimas semanas, com o Cazaquistão – que enfrenta movimento de protestos parecido com o que levou a um governo pró-Ocidente ucraniano, que nunca fora bem aceito pelo Kremlin.


Mostrando ser capaz de invadir, de fato, o território ucraniano e estabelecer em Kiev um governo análogo ao Kremlin, Putin forçou que OTAN, EUA e União Europeia sentassem à mesa para discutir o levantamento de sanções internacionais que vigoram contra a Rússia desde a anexação russa da Criméia – duramente criticada e não reconhecida pelos países ocidentais.


Paralelamente, a Rússia se aproxima cada vez mais da China numa conveniência antiamericanista para neutralizar qualquer reação da OTAN às movimentações russas ou às investidas chinesas para sufocar os intentos democráticos em Hong Kong.


Forma-se, portanto, algo semelhante a uma interdependência de reações caso os americanos e europeus atuem para coibir as posturas agressivas iranianas, russas e chinesas em cada um dos conflitos.


Da parte israelense cabe, como de costume, bastante atenção. É sabido que Israel só pode contar consigo mesmo para defender seu povo e seu território – e, por isso, o faz com excelência – mas, a premissa de uma reação americana, e ocidental de uma maneira geral, a uma hostilidade estatal contra o território israelense tem peso relevante na estabilidade regional.


Nesse sentido, é importante que Israel alerte o mundo para as consequências da política não intervencionista, que ganhou força durante o Governo Trump, especialmente, nas negociações de conflitos internacionais. Imbuído do espírito da realpolitik sabe-se que deve-se negociar, mas sem chegar à mesa despido de outras opções.